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quarta-feira, 16 de março de 2011

A matemática e a toalha

"Há duas expressões que, no desporto, se usam quando já não se acredita no que se diz. Uma espécie de certidão negativa de «profissão de fé». Refiro-me ao «enquanto for matematicamente possível» e ao «ainda não atirámos a toalha ao chão». Agora que se aproxima o fim das competições, ouvimo-las a toda a hora, seja porque não se ganha, seja para não descer, seja para o que for.
A primeira é a medida aritmética do défice de expectativa. Uma espécie de PEC, Pontos Em Crise. Está para as competições como as sondagens para os derrotados. Ou, como «as contas públicas em ordem» estão para o Estado. Acontece que a suposta possibilidade da matemática é o modo não assumido da impossibilidade da realidade. Como alguém disse, «na matemática, para saborear com prazer o fruto é preciso conhecer bem as suas raízes.» Mesmo que as raízes quadradas...
A segunda é a medida higiénica da não aparência de desistência. Não atirar a toalha ao chão, pressupõe desde logo, que haja toalha. E que haja toalheiro. É uma frase para se evitarem outras formas de se atirar. Por exemplo, atirar a primeira pedra, ser atirado às feras, ou atirar às malvas o esforço. Ou, ainda, atirar à cara dos jogadores o insucesso, embora os adeptos não possam atirar o dinheiro à rua, ainda que, às vezes, atirem com tudo ao ar (incluindo a toalha). No fundo, diferentes modos de atirar o barro à parede...
Misturando as duas asserções, por que não passar a dizer, com mais rigor geométrico, «ainda não atiramos matematicamente a toalha ao chão»? Ou, mais rasteiramente, «enquanto a matemática for possível no chão»? Ou, por fim, em expressão surrealista, «enquanto o chão for matematicamente uma toalha»?"
Bagão Félix, in A Bola

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