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domingo, 14 de agosto de 2011

TEATRINHOS

"Guardo a memória grata dos teatrinhos de robertos nas praias da minha infância. Há muito que desapareceram e, com eles, a magia de um trabalho de itinerância pobre que enchia de alegria os olhos das crianças, sob o sol escaldante dos meses de veraneio.

Nesses teatrinhos, pequenos palcos de madeira e lona que salpicavam de cor a brancura dos areais, havia sempre um vilão de cacete na mão que resolvia tudo à paulada, no meio de mais intimidante berraria. Os teatrinhos desapareceram há muito, mas os vilões dos teatros de robertos continuam a subir a cena, sobretudo quando fazem contas e são levados a recear que a nova temporada de praia não lhes corra de forma tão auspiciosa como a anterior.

Gosto de os ver a esganiçarem-se, assumindo as suas personagens para conseguirem criar a agitação de feira que constitui o tempero das grandes diversões populares. Aqui uma cacetada, ali uma fugaz provocação em falsete, mais adiante um insulto velado. Nada falta neste previsível arsenal de 'bocas' que servem para criar factos políticos-desportivos e para manter a pressão alta sobre os adversários mais temíveis e credíveis. Nem Sun-Tzu faria melhor no seu cada vez mais clássico 'A Arte da Guerra'.

E tudo por causa desta memória já longínqua dos teatrinhos de robertos que nunca seriam o que eram sem um vilão brandindo o seu cacete enquanto via partir para outros palcos de maior dimensão os seus melhores trunfos.

Entretanto, no palco principal, os mais destacados nomes do cartaz sobem à cena e vão mostrando do que são capazes na hora dos banhos turcos. Revelam-se coesos, bem preparados e com vontade de vencer, que é, afinal, o que verdadeiramente conta e deixa sem argumentos o vilão de cacete na mão dos teatrinhos de praia.

Há memórias que é sempre bom preservar, mais que não seja porque nos permitem recordar as tristes figuras que esses vilões de cacete na mão faziam, à torreira do sol, nos velhos teatrinhos de robertos."



José Jorge Letria, in O Benfica



PS: Não foi concerteza a intenção do autor, mas esta coluna 'encaixa' na perfeição no rescaldo Lagarto, após o empate com o Olhanense, inclusive os falsetes!!! Além da lona às riscas...!!!

1 comentário:

  1. hi hi hi hi

    O mão de ferro, está a ficar enfurrujado com tanto surrealismo.

    O Berard é que lucra com o melhor museu do mundo.

    Vai passar a chamar-se el museu de vira frangos.

    hihihihihihihihihihihihi

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