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quarta-feira, 18 de abril de 2012

#Sporting

"Na rede social twitter, a junção entre o sinal # e uma palavra-chave constitui um indexador a que deram o nome de hashtag para simplificar o acesso dos interessados aos temas. Assim, como na internet anda tudo ligado, “cardinal + sporting” (#sporting) é um tópico muito utilizado, popular mesmo, embora não exclusivo de assuntos do clube lisboeta. A hashtag #sporting enche-se de comentários dos adeptos do Gijón, do Anderlecht, do Kansas City, além de outros dispersos sobre material desportivo, gente a quem os nomes de José Cardinal e Paulo Cristóvão nada dizem.
Esta confusão coincide com o estado bipolar que assiduamente atrapalha a vida do clube, primeiro em prontidão e logo depois em negação, como uma atração pelo abismo.
Ao longo de três décadas, os emblemas de Lisboa sonharam ter o seu guarda Abel, capaz de manter no redil os jogadores com tendências para o tresmalho noturno, de pregar sustos a árbitros e auxiliares e de gerir todo o tipo de informação útil, porque esta garante o poder. Antes de o método descambar na pouca-vergonha do Apito Dourado, todos invejavam a “organização” que se revelava fundamental para o sucesso, arriscando mesmo algumas imitações foleiras que só aumentaram a admiração pelo original. Todos queriam ter o seu dirigente malvado e poder bater-se de igual para igual.
Em vinte anos, o subserviente agente de coação básica evoluiu para executivos de “inteligência”, de fato e gravata, e deixou de ostentar as coronhas à cinta. Pela causa, pela “raça”, pelos objetivos, a capacidade de dominar a informação continua a fazer sentido, embora a elevação formal dos autores fique mais perto de causar desconforto e repulsa, se, por falta de jeito ou descuido, as operações fracassarem.
Em poucos dias após o retumbante triunfo sobre o Benfica, num calendário minuciosamente cumprido pela investigação para “não prejudicar” as prestações da equipa de futebol, a “organização” leonina envergonhou-se como um parente pobre a quem se recusa um abraço, mas se dá uma sopa. Paulo Cristóvão terá agido para o Sporting, mas não para a SAD. Terá mandado depositar dinheiro em conta alheia, mas não corrompeu. Terá afastado um árbitro de um determinado jogo, mas não contrariou a verdade desportiva. Terá sugerido o envolvimento criminoso de outro clube, mas não vê lugar à punição social. Não quer condicionar os árbitros, mas está aflito perante nova reação corporativa. Reconhece o abuso, mas acha que Cardinal “merecia”. Sente-se vulgar, mas não tanto como os que já fizeram parecido ou pior. Lamenta, mas não se arrepende, ignorando olimpicamente a vítima, sem uma palavra de contrição.
Como na rede social os seguidores de #Sporting se confundem com a dispersão do tema, também os responsáveis do clube se sentem numa encruzilhada ao desejarem, em simultâneo, dominar o horizonte e passar incógnitos, influenciar sem serem discutidos, “trendy” mas em circuito privado. No futebol esta duplicidade é incompatível – nenhum clube pode ser ao mesmo tempo cândido e devasso, nem ligar-se a um Cardinal sem mergulhar de cabeça no lodaçal da arbitragem. O Sporting entregou a virgindade sem prazer ou benefício. E ainda se cala, consentindo."

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