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quinta-feira, 5 de julho de 2012

O pré-aviso de turbulência era desnecessário

"Por que raio teremos de ser avisados, ainda em tempo de praia e pelo próprio, de que não vamos gostar de Pedro Proença na próxima temporada?

NA noite de terça-feira, na hora do noticiário da SIC, de relance, pareceu-me ver um sócia de Pedro Proença a falar sobre o árbitro português que, no espaço de mês e meio, apitou a final da Liga dos Campeões e a final do Europeu de futebol.
Dizia o sócia qualquer coisa como «para o Pedro Proença não significa dar respostas mas para o futebol português significa alguma coisa» em resposta a uma pergunta da jornalista sobre o significado de tamanhas honrarias.
Mas afinal era o próprio Pedro Proença que, à semelhança de muitos artistas do futebol ao longo dos tempos, se trata a si próprio na terceira pessoa do singular quando lhe vem a calhar. É uma curiosidade do modo de falar do futebolês esta distância surreal imposta pela pessoa que fala e a imagem pública do referido orador.
Não se pense, no entanto, que esta coisa de alguém se referir a si próprio na terceira pessoa do singular é uma invenção do singular mundo do futebol. Nada disso. Já os biógrafos de Marilyn Monroe referem que a diva de Hollywood, que morrei em 1962, se referia a si própria quando falava com amigos como «ela». Enfim, mitologias.
Nenhum mal veio ou virá ao mundo por causa de coisas destas.
Foi bastante interessante e prometedora a entrevista de Pedro Proença à SIC. Passemos adiante daquele pormenor, por sinal absurdo, dos lamentos, instados pela entrevistadora, sobre o facto de nenhum membro do Governo ter ido ao aeroporto receber com um ramo de flores, no mínimo, o árbitro da final do Europeu.
Posto em comparação com os jogadores da Selecção Nacional que caíram nas meias-finais da prova e com a medalha de ouro e o título europeu dos 10 mil metros da atleta Dulce Félix - e houve governantes no aeroporto para estes todos - a notícia da ausência de um secretário de Estado na Portela para receber Pedro Proença é apenas um episódio da silly season informativa que nos tomba em cima a cada verão.
De substância, o que ficou das palavras de Pedro Proença na SIC foi a garantia dada de que, ao contrário do que se passa no estrangeiro onde é conceituadíssimo, em Portugal... «Quando mais tempo passar, as pessoas vão gostar cada vez menos de mim».
Cá está um tipo de esclarecimento que era absolutamente desnecessário e extemporâneo. E até um bocadinho desmoralizador, agora que a época se aproxima do seu início. Por que raio teremos de ser avisados, ainda em tempo de praia, de que não vamos gostar de Pedro Proença ao longo da próxima temporada e das outras todas que se haverão de seguir?
Isto vai contra natureza do espectáculo que é a da indecisão, do suspense, do não se saber o que se vai passar. A culpa desta anormalidade é do Platini. Desde que o presidente da UEFA se atreveu a vaticinar uma final Alemanha-Espanha para o recém-extinto Europeu, armado em polvo Michel, agora tudo passou a ser superiormente autorizado no campo das apostas legais, avulso e por atacado. Armado em polvo Pedro Proença diz que cada vez menos vamos gostar dele quando o contrário é que era de valor.
Assim não vale.

A proposta veio da Madeira, mais exactamente do Nacional, e foi aprovada em assembleia geral da Liga de Clubes. Parabéns, portanto, ao Nacional da Madeira por levado à reunião magna do futebol profissional a questão, que era urgente há décadas, da interdição dos empréstimos de jogadores entre clubes que disputam o mesmo escalão. Por 19 votos a favor, 9 votos contra e 1 abstenção ficou democraticamente decidido que, daqui para a frente, estão os emblemas que alinhem nos mesmos quadros competitivos formalmente impedidos de emprestar ou de receber por empréstimo jogadores.
Foi uma agradável surpresa que marcou o fim de Junho e que vai marcar, confiando no bom senso da indústria, já a próxima temporada oficial. E não é de crer que a história volte atrás. Sejamos optimistas!
Embora entre crer e o querer vá uma grande distância, enorme mesmo, nestes passos moralizadores do nosso futebol. Haverá sempre quem creia e quem não queira.
O presidente do Nacional, Rui Alves, definiu a sua proposta como «benéfica para a verdade desportiva». E é verdade que sim. O futebol é como a mulher de César, não lhe basta ser sério, tem de o parecer e é nesse sentido que esta alteração ao regulamento das provas oficiais vem, liminarmente, desarticular o pasto de suspeitas e de especulações que se instala com grande aparato mediático sempre que, no decorrer das provas e quando a coisa está a aquecer, se defrontam clubes que emprestaram jogadores uns aos outros.
Na época passada, quando o Benfica foi jogar a Paços de Ferreira, não se falou noutra coisa durante a semana que antecedeu o jogo do que de uma eventual e insultuosa predisposição para ronha por parte do jovem Melgarejo, jogador do Benfica emprestado ao Paços.
Os receios, em nome da dita verdade desportiva, revelaram-se infundados embora o Benfica tenha ganho o jogo. Melgarejo fez uma exibição convincente, ainda atirou uma bola ao poste da baliza do seu patrão e só mentes muito tortuosas poderão ter concluído que o bom do Melgarejo, por ser o rei da pontaria criminosa, acertou nos ferros de propósito para não fazer um golo a Artur.
É por estas e outras que a nova legislação sobre empréstimos de jogadores é obra que merece todos os encómios.
Suspeições sobre dirigentes e suspeições sobre árbitros mancharam sem remissão o bom nome do futebol português nos últimos anos e muito para além do campo estreito e maldoso da boataria nacional. Houve processos judiciais, gente escutada, gente presa e todas essas delinquências saltaram para a praça pública de forma retumbante.
O futebol, no entanto, sobreviveu à investida dos polícias e dos juízes. Outra coisa não seria de esperar.
No entanto, ao contrário do que já sucedeu em outros países, nunca em Portugal as suspeitas de batotice institucionalizada caíram sobre os jogadores de futebol. E é bom que assim continue para que possamos continuar a pagar bilhete para ver um espectáculo sabendo, da antemão, que os artistas em cena são profissionais de maior ou de menor talento mas, e isso é que é importante, são gentes acima de qualquer suspeita.
É que sendo o futebol um jogo de sorte e de azar ninguém está a salvo de um simples e inocente acidente que pode tomar proporções de escândalo por causa das más-línguas do clubismo exarcebado. Há muitos anos, era Jorge Costa um jovem jogador do FC Porto emprestado ao Marítimo, e num jogo disputadíssimo entre os dois emblemas acabou por sorrir a vitória ao FC Porto com um auto golo do desastrado Jorge Costa.
Lembram-se? É bom, melhor dito, é óptimo que estas coisas nunca mais voltem a acontecer em defesa da reputação dos artistas.
Na última assembleia geral da Liga dos Clubes, na sessão em que se votou a interdição de empréstimos de jogadores entre clubes que disputem o mesmo escalão, foi o Sporting um dos emblemas a apoiar a proposta do Nacional da Madeira e a votá-la favoravelmente.
Luís Duque, o dirigente que representou o clube de Alvalade na dita reunião histórica, explicou no final da sessão o sentido do seu voto: «Servirá para evitar que se repitam algumas situações que têm vindo a acontecer de há uns anos para cá e que podem facilmente ser entendidas como pouco claras», disse e disse muito bem.
É que não foi nada bonito, mesmo no final da última temporada, aquele desaguisado público entre Sá Pinto, treinador do Sporting, e Adrien, jogador do Sporting emprestado à Académica de Coimbra, nas horas que antecederam a final da Taça de Portugal que juntou os dois clubes no Jamor.
Sá Pinto revoltou-se em conferência de imprensa contra o facto de Adrien, um jogador propriedade do Sporting, um «activo» como se diz, ter proferido intenções de sucesso no jogo que ia disputar contra o patronato estando, para piorar as coisas, o patronato em situação declarada de black-out.
Lembram-se? Também não foi assim há tanto tempo.
As provas oficiais em 2012/2013 vão arrancar com esta novidade de proibição de empréstimos de jogadores entre clubes que disputem o mesmo escalão. É uma grande notícia. Vamos lá ver se isto não volta tudo para trás. Seria uma pena. E uma vergonha."

Leonor Pinhão, in A Bola

PS: É raro, mas esta analise da Leonor é muito ingénua!!! Pergunto: quem vai definir aquilo que é, ou não é, um empréstimo?!!! Por exemplo se um jogador estiver ligado somente a um empresário (ou um terceiro clube...)... por exemplo António Araújo?!!! Será que esse jogador poderá ser 'emprestado' a um clube da I Liga?!!! E os treinadores 'emprestados'?!!! E os dirigentes 'emprestados'?!!! E os clubes comprometidos, por motivos financeiros ou emocionais com os Corruptos?!!! Ou com o Oliveirinha?!!!

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