Últimas indefectivações

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Contem-me histórias

"Aos dez anos, deixamos de acreditar no Pai Natal. Aos vinte, deixamos de acreditar na perfeição. Aos trinta, concluímos que não poderemos mudar o Mundo. Aos quarenta (para onde a vida já me empurrou), não acreditamos em quase nada - excepto, nalguns casos, em nós próprios, e naqueles que nos são mais queridos.
Quando li, e ouvi, tudo aquilo que se passou em redor do castigo de quinze dias aplicado a Jorge Jesus (já agora, apenas por ter dito uma verdade), quando li, e ouvi, uma estranhíssima declaração de vencido do presidente do Conselho de Disciplina (por sinal adepto do FC Porto), quando me apercebi do folclore mediático que essa declaração, o castigo, e o também absurdo timing do mesmo (quer por aplicado numa fase sem quaisquer jogos onde se concretizar, quer por terem decorrido seis longos meses desde o facto que lhe deu origem) geraram na comunicação social e nos meios do anti-benfiquismo, sabendo que o caso-Luisão estava a ser tratado numa sala ao lado, percebi de imediato que as coisas, no que diz respeito ao nosso defesa-central, não iriam correr bem.
Como já entrei nos tais quarenta, e como não acredito, nem na Justiça Civil, nem na Justiça Desportiva, nem na seriedade de muitos dos seus agentes, nem, já agora, em coincidências, dificilmente alguém me poderá convencer que uma coisas não esteja relacionada com a outra. Isto é, que um 'castigo' (o do Jorge Jesus, com aspas, com votos de vencido, e gorros do Pai Natal), não tenha servido para preparar terreno ao verdadeiro castigo (sem aspas, nem piedade), que nos vai retirar um dos mais influentes jogadores da equipa por um longo período - que abarca várias jornadas do Campeonato Nacional.

Areia para os olhos
Simulacro de decisões condenatórias é coisa que não falta na história do nosso Futebol. Lembro-me, por exemplo, dos seis pontos retirados ao FC Porto por corrupção desportiva, alguns anos depois dos factos, mas precisamente no momento em que o clube corruptor levava a maior vantagem pontual de que desfrutou na última década. Ou seja, com o Campeonato, com esse Campeonato (o de 2007/08), já totalmente resolvido.
Ainda assim caiu o Carmo , a Trindade, e a Torre dos Clérigos, e com ela tombou também o homem que havia tomado a 'corajosa' decisão. Não, como seria lícito esperar, pela total inconsequência material da plena aplicada. Sim, porque, segundo os do costume, o FC Porto e Pinto da Costa estavam a ser perseguidos por Ricardo Costa - figura que, de resto, também nunca  me comoveu particularmente. Resultado: zero! O Apito Dourado e o Apito Final passaram à história, o FC Porto acumulou campeonatos, e vive feliz como se nada fosse. Para o Benfica, principal vítima das fraudes verificadas durante anos, ficou apenas a fama de um falso ressarciamento, e a indignação dos adeptos mais atentos. A babilónia processual e formalista da Justiça comum encarregou-se do resto, matando de vez qualquer esperança de reposição da verdade (aspecto em que, diga-se, se vai especializando com cada vez mais fulgor).
Se essa decisão pretendeu fechar a porta da verdade, o castigo recentemente aplicado a Jorge Jesus procurou abrir a da mentira. Foi o prelúdio perfeito para preparar o terreno ao golpe-Luisão, desarmando argumentos contestatários, e alimentando uma falsa, ilusória e enganadora equidade.

Enganem outros
Mas os benfiquistas não se deixam enganar. Tenhamos mais ou menos de quarenta anos, estamos todos já demasiados escaldados com histórias de golpadas obscuras nos bastidores do futebol português. Há muitos anos que convivemos com isto, e já estamos fartos de ser tomados por parvos. Desde 1983 que, em Portugal, andam a gozar com o Futebol, e com os adeptos que devotamente o alimentam. E, passado tanto tempo, não há máscaras que resistam.
O caso Luisão é um caso de injustiça gritante, sobretudo comparado com outros que a memória ainda não apagou (Deco, Belluschi, etc). E o cozinhado que lhe serviu de 'couvert', por mais elaborado que fosse, por mais requintados que fossem os ingredientes utilizados, sabe-nos já a azedo. Com papas e bolos, só enganam os tolos."

Luís Fialho, in O Benfica

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