Últimas indefectivações

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A quem convém o silêncio?

"Uma frase ficou para a História de Portugal e da hipocrisia, que muitas vezes de confundem  Foi proferida pelo infame Salazar depois do assassinato do general Humberto Delgado. Dizia ele na sua voz alquebrada de seminarista: 'A nós convinha que falasse; a outros haveria de convir mais o silêncio que só a morte poderia, com segurança, guardar...' Ah! Assustadora realidade! A quem convém o silêncio? Perguntem por aí. Mas perguntem alto. A quem convém que se calem as trampolinices, as barbaridades, as trafulhices? Quem deseja que o silêncio caia sobre visitas nocturnas de um árbitro a casa de um dirigente? Quem está verdadeiramente interessado em que gestos canalhas se percam no esquecimento?
Quem quer ocultar de uma vez por todas no limbo do oblívio os espancamentos a jornalistas, as ameaças anónimas, as litigâncias de má-fé, as viagens ao Brasil, os cheques, os envelopes, as prostitutas, os jantares armadilhados? Há por aí cada vez mais gente a exigir que tudo se enterre fundo nas areias movediças de um tempo que passou, como se fôssemos todos cegos e surdos e mudos, e, sobretudo, desonestos como eles. Gente que fala e gente que escreve. Canetas de aluguer condenadas à esterqueira de consciências macabras. E agora até se anunciam canais de televisão em cuja antena a verdade passará a ser outra e não mais a verdade suja que todos nós conhecemos. A quem convém tanto silêncio? A quem beneficiam as vozes que se calam? Quem são os infames hipócritas que mendigam a lavagem das palavras e dos gestos? Eu sei a quem convém o silêncio! Como todos os silêncios, convêm aos criminosos!"

Afonso de Melo, in O Benfica

2 comentários:

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