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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O perfeito guarda-costas da águia

"Paradigma de bom senso, tranquilidade, razão e segurança, até o escrete canarinho ganhará se o escolher. Com Artur na baliza, a reserva moral do futebol que é a selecção do Brasil ficará em muito boas mãos.
1. Disse José Mourinho sobre Essien que o ganês é daqueles homens a quem confiaria os filhos se necessário fosse. Jorge Jesus não irá tão longe sobre Artur, mas dele dirá que não espera precipitações ou qualquer manifestação esquizofrénica que sirva para acentuar pânico onde é suposto levar serenidade e competência. O brasileiro tem o saber enciclopédico dos mais experientes, aqueles que atingem a maturidade plena acumulando informação sem perderem agilidade, reflexos, coragem e prazer pelo jogo. É quase impossível vê-lo cometer erros tácticos  por posicionamento deficiente, má avaliação de distâncias ou decisões erradas. O seu talento conjuga o espírito juvenil de quem ainda tem sonhos por cumprir com a requintada sobriedade de quem já viveu muitos anos debaixo dos postes – é um dos melhores guarda-redes da história recente do futebol português.
2. Artur revela ainda a força da intimidação, o estatuto dos marechais das balizas que pode levar o avançado, em circunstâncias iguais, a ter comportamento diferente mediante o adversário que lhe surge pela frente. Certa tarde, em Alvalade, no Sporting-Alverca de 1999/00 (1-1), aconteceu o insólito: quando toda a equipa leonina procurava a vitória nos derradeiros instantes do jogo, Paulo Costa roubou a bola e correu isolado mais de meio campo na direção da área verde e branca; no momento de decidir, olhou em frente e viu o gigante Peter Schmeichel; desarticulou-se, tremeu e, talvez por entender que a baliza estava fechada (se calhar estava mesmo...), rematou ao lado. Essa capacidade para fazer tremer os adversários torna um guarda-redes ainda mais valioso.
3. De resto, o número 1 encarnado depurou estilo e tipo de intervenção que o aproximam do ideal para as necessidades de uma grande equipa. Artur sabe que há templos na vigilância dos quais não se pode jogar em contínuo processo de descarga de energia e tensões; que um erro na defesa desses tesouros mais valiosos não tem remédio porque, a esse nível de exigência, ao contrário do que sucede em cofres mais modestos, jamais lhe é concedida uma segunda oportunidade. Como diz Jorge Valdano sobre esses guarda-redes dos campeões, ciente de que as falhas são mais notadas porque aparecem pouco em cena, “estão destinados a contemplar mas não se podem dar ao luxo da distração”. Essa é a grande diferença entre o guardião das potências e os outros.
4. Artur confirma ser o guarda-costas perfeito para esta águia de bons costumes e vocação aventureira. Os cabelos brancos, que começam a evidenciar-se, anunciam um homem responsável, maduro, sábio e tranquilo; que nunca tem pressa, raramente se enerva e dispõe de soluções técnicas para cada situação; um guarda-redes assente na virtude de saber esperar pelo momento de intervir sem perder a concentração e que não altera o comportamento mesmo quando passa muito tempo como espectador. Numa equipa atrevida e ambiciosa, Artur é o paradigma de bom senso, tranquilidade, razão e segurança. E até o escrete canarinho ficará bem servido se o escolher. Com ele na baliza, a reserva moral do futebol, que é a seleção do Brasil, ficará certamente em muito boas mãos."

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