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terça-feira, 5 de março de 2013

Erros de Nazaré, o «timão» de Dé e 60 mil a aplaudir de pé...

"No último dia de Março de 1974, o estádio de Alvalade despediu-se de Marcello Caetano com enorme entusiasmo e com um Sporting-Benfica inesquecível (3-5)!

Faltava pouco para que os militares de Abril pusessem fim a uma regime apodrecido. Faltavam cinco jornadas para o fim do Campeonato. O Sporting era «leader», assim mesmo, inglesado porque era a moda da época. O Benfica era um campeão muito à beira de deixar de o ser. Alvalade encheu: 60.000 pessoas. Números extraordinário. Confiavam os «leões» numa vitória que, a cinco jornadas do fim, lhes haveria de quase garantir as faixas.
Havia razões para optimismos. Jogadores de excelência: Damas, Marinho, Dinis, Dé, Chico, Yazalde...
Somavam os verde-e-brancos seis vitórias consecutivas: Oriental, 8-0 (c); Farense, 2-0 (f); CUF, 6-0 (c); Montijo, 4-1 (f); FC Porto, 2-0 (c); V. Guimarães, 1-0 (f). Um ataque remível; uma defesa resistente.
Qualquer vulgar jogador de totobola faria a cruzinha na coluna da direita. Era assim que ordenava a lei das probabilidades.
No início da época, o treinador do Benfica era Jimmy Hagan. Ganhara três Campeonatos consecutivos e era uma figura indiscutível do Clube... Até que...
À terceira jornada do Campeonato, o técnico inglês, viciado na disciplina, proíbe Humberto Coelho, Toni e Nelinho de participarem na festa de despedida de Eusébio. Motivo? Terem chegado atrasados a um treino. O presidente Borges Coutinho interpreta a posição do técnico como um excesso de autoridade. Liberta os jogadores do castigo. Jimmy Hagan sai do Benfica e vai treinar o Estoril, na altura da II Divisão.
Fernando Cabrita toma o posto de treinador principal.

Marcello Caetano e Raul Nazaré
As últimas jornadas tinham sido penosas para o Benfica: derrota nas Antas (1-2); vitória na Luz sobre o V. Guimarães (5-1), empate em Aveiro (1-1).
Não havia razão para muito optimismo na visita a Alvalade.
Cabrita faz jogar: José Henrique (Bento, 45m); Artur, Humberto Coelho, Barros e Adolfo; Toni, Vítor Martins e Simões «cap»; Nené (Diamantino, 74m), Jordão e Vítor Baptista.
Mário Lino, o treinador responde com: Damas; Manaca, Bastos, Alhinho e Carlos Pereira; Vagner «cap», Nelson e Dinis (Dani, 74m); Marinho, Yazalde (Chico, 66m) e Dé.
Minutos antes de se iniciar a partida, 60.000 pessoas levantaram-se para aplaudir com entusiasmo o Presidente do Concelho, Marcello Caetano. Quem diria? Estávamos no dia 31 de Março de 1974. Menos de um mês mais tarde, a 25 de Abril, Marcello Caetano era vilipendiado pelas ruas das cidades de todo o País.
E o Benfica dessa tarde de Alvalade? Ah, pois, o Benfica...
«Insólito inesperado, sensacional...», pôde ler-se. «A superioridade dos 'monstros da Luz' foi tão evidente e continuada que nem 'os penáltis do árbitro', o senhor Raul Nazaré, conseguiu fazê-los parar».
Sim porque houve casos. Dois penáltis a favor do Sporting a merecerem notas à margem. Mas isso lá mais para o fim da contenda que até começou sorridente para o Sporting, com um golo logo aos 8m apontado por Yazalde. Se já havia confiança antes do jogo, ela cresceu depois desse minuto: os adeptos leoninos viam-se já campeões antes do tempo. Excitação natural, mas sem motivos. Quatro minutos depois já Humberto Coelho empatava e ao rodar da meia-hora Nené fazia o 1-2, e o 1-3 logo a seguir, aos 35m. A excitação tornou-se triste. Mas quase sobre o intervalo, Yazalde fez o 2-3 (42m). De penálti. Penálti estranho, tal como o segundo. Assim descritos por quem viu e registou nas páginas de «A Bola»: «O seu erro maior, porém, foi deixar-se impressionar, duas vezes, por reclamações de Marinho, que ainda tentou outra vez mas foi, então, desatendido. Até onde nos é possível confiar apenas naquilo que vimos, em nenhuma dessas ocasiões o avançado sportinguista foi rasteirado, empurrado, ou de qualquer modo impedido de jogar a bola por um adversário, em falta. No primeiro lance ainda admitimos a hipótese de um defesa benfiquista lhe haver tocado porque a bola estava a ser disputada por ambos e num jogo de futebol é impossível evitar que os jogadores toquem uns nos outros. No segundo, porém, nem isso. Bem sucedido na sua primeira tentativa, Marinho terá procurado repetir a cena, mas agora sem o mínimo vislumbre de autenticidade».
De pouco serviu a manha de Marinho. Aos 58m já Jordão assinara o 2-4, cabendo a Vítor Martins o 2-5 aos 70m. O tal penálti manhoso terminou com o encontro, no último minuto, apontado por Dé. Dé, brasileiro de categoria que passou pelo Sporting, e no final diria, admirado: «O Benfica venceu à custa de uma exibição sensacional! Me disseram que era um time de velhos mas se aquele timão é velho, como seria se os caras fossem novos?»
Era o primeiro «derby» de Dé. Inesquecível."

Afonso de Melo, in O Benfica


2 comentários:

  1. Porra, porra e porra!

    Miúdo! No meio de graúdos, Benfiquistas e Sportinguistas (que ainda os havia) amigos e familiares.
    Velhos tempos em que ainda se podia levar os putos ao futebol, vi o Benfica esmagar os que hoje são auto-colocam como submissos lagartos!

    A minha primeira grande memória futebolística!

    Obrigado Afonso e obrigado abidos, pela nostalgia e reavivar de memórias!
    Muito obrigado a ambos!

    Abraços

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  2. Ouvi o relato no mato, estava na tropa.Foi memoravel esse jogo, já se começava a falar de um tal Vitor Batista, um dos melhores ponta de lança do futebol português.

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