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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O grande gigante do país anão

"Anderlecht é o adversário do Benfica na 1.ª jornada da Liga dos Campeões. Voltemos atrás no tempo: até ao dia 13 de Junho de 1961, em Paris, quando os dois clubes se defrontaram pela primeira vez.

A semana passada falámos aqui de Paris, cidade feliz de um Eusébio feliz, local da estreia internacional daquele que é o melhor jogador português de todos os tempos.
Foi precisamente nesse Torneio Internacional de Paris que o Benfica defrontou pela primeira vez na sua história inconfundível o Anderlecht, próximo adversário na Liga dos Campeões.
Num país quase anão, como é a Bélgica, o Anderlecht é um gigante. 32 vezes campeão nacional, duas vezes vencedor da Taça das Taças, vencedor de uma Taça UEFA à custa do Benfica, equipa do inesquecível Paul Van Himst, assim, se quisermos ser simpáticos, uma espécie de Eusébio belga mas em mais claro.
Van Himst estava em Paris, jogando pelo seu Anderlecht no dia 13 de Junho de 1961. Também ele assistiu ao primeiro jogo internacional de Eusébio com a camisola do Benfica, substituindo Coluna (com anginas) na equipa principal na qual estavam também Costa Pereira, Mário João, Ângelo, Neto, Pinto, Cruz, José Augusto, Santana, José Águas e Cavém.

De Paris a Bruxelas vai um passo
A manobra do Anderlecht foi bem clara desde início: controlar os movimentos do ataque dos campeões europeus; defender, defender e defender e, depois, quando houvesse uma pequena oportunidade, fazer um golo em contra-golpe.
A táctica foi eficaz. Pelo menos desde início. O Benfica lançava-se sobre o adversário e sujeitava-se. Stockman fez 0-1, aos 18 minutos, de cabeça; Eusébio empatou, aos 28, num remate surpreendente de efeito e colocação sem qualquer hipótese para o guarda-redes Trappeniers; Stockman, outra vez de cabeça, repetiu a dose.
Os Belgas dominavam o jogo e o Benfica, que caía frequentemente na armadilha do fora-de-jogo, um truque que as equipas Belgas sempre souberam explorar na perfeição, sentia-se perdido.

Os nervos de Eusébio
O jogo foi apaixonante. Houve oportunidades belíssimas de uma parte e de outra. Eusébio não escondia os nervos. Aliás, diria no final: «Bem gostaria de poder substituir integralmente Coluna, que considero um grande jogador. Muito tempo joguei enervado e a minha forma de jogar ressentiu-se desse enervamento. Só espero não ter desiludido os que tinham confiança em mim».  Claro que não desiludiu! Bem pelo contrário! Estava aí, à vista de todos, sob as luzes brilhantes da magnífica Paris o nascer de um jogador extraordinário, um daqueles fenómenos que surgem nos céus do Futebol com a frequência com que o cometa Haley visita a Terra.
Voltemos então ao jogo. Na segunda parte, a velocidade com que o Anderlecht tinha jogado foi-se diluindo no fluído do cansaço. Experiente, seguro, o Benfica impôs-se.

José Augusto empata
OS Belgas resistiram ainda um  pouco. Mas não restavam dúvidas sobre a maior qualidade dos portugueses. Aos 74 minutos, José Augusto fez o empate num pontapé afortunado. A partir daí já não há nada a fazer: o Benfica vence, trazendo ao de cima a classe dos seus jogadores. O 3-2 final só chega, apesar de tudo, à beirinha do fim, no minuto 88, graças a um remate fulminante do avançado José Águas.
Pela primeira vez na história imponente dos dois grandes clubes, Benfica e Anderlecht haviam estado frente a frente. Cavém não regateou elogios aos Belgas no final do encontro: «São bons! Jogam a uma velocidade estonteante. Houve momentos em que pareciam o Benfica...»
Com esta vitória, o Benfica apurava-se para a final do Torneio de paris, cabendo-lhe enfrentar o Santos de Pelé - que vencera o Racing de Paris, por 5-1 - no Parque dos Príncipes.
Mas sobre este jogo extraordinário já aqui falámos, se bem se lembra."

Afonso de Melo, in O Benfica

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