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domingo, 20 de outubro de 2013

Toneladas de areia para os nossos olhos

"A profissionalização da arbitragem não vai resolver nenhum dos seus problemas: a opacidade e a falta de lógica no processo de nomeações e os erros grosseiros protagonizados pelos árbitros. O sistema faliu e querem atirar-nos poeira para os olhos.
O futebol, pela dimensão que a respectiva indústria alcançou, em vez de se livrar das suas imparidades e de expulsar os batoteiros, continua a arranjar esquemas para albergar gente sem escrúpulos, que se desdobra em expedientes para condicionar a verdade desportiva. É preciso combater a proliferação dos resultados combinados que já é mais do que uma ameaça. Não são apenas os mecanismos que tornam os árbitros mais ou menos favoritos deste ou daquele presidente ou dirigente; deste ou daquele clube. Eram os árbitros, depois passaram a ser os "fiscais de linha" (hoje denominados árbitros assistentes), e a certa altura já se viam jogadores a entrar no carrossel.
Quer dizer: é através do controlo do sector da arbitragem que se chega muitas vezes à vitória quando, em campo, as equipas não são capazes de se superiorizar através de argumentos técnicos, tácticos e físicos, mas hoje em dia a "sofisticação da batota" alcança outros mecanismos a partir dos quais é possível retirar importantes benefícios. Na realidade, há já um caudal de notícias que nos alertam para o que pode estar por detrás dos fundos de jogadores. A não identificação dos nomes relacionada com a titularidade desses fundos e a suspeita de envolvimento de paraísos fiscais em todo o processo, com a cada vez maior certeza de que há gente nos clubes a servir os interesses dos fundos (com benefícios directos e indirectos), torna tudo mais nebuloso e os futebolistas não são mais do que marionetas, convencidos de que os seus créditos também são grandes e compensatórios. Se juntarmos a tudo isto o impacto das apostas online e dos seus "circuitos paralelos", perceberemos que está cada vez mais difícil acreditar no que vemos acontecer dentro das quatro linhas: "Se as pessoas perceberem que os jogos são combinados, vão preferir ver novelas", sentenciou esta semana Maradona.
O controlo da arbitragem foi sempre a maior das preocupações de alguns dirigentes do futebol português, porque era a maneira mais fácil de obter um penálti, uma expulsão, uma falta à entrada da área, um fora-de-jogo numa situação não muito fácil de descortinar ou validar um golo conseguido de forma irregular.
A preocupação continua válida, porque a natureza de certas decisões, sobretudo em lances de dúvida, pode valer muitos pontos (no começo dos campeonatos, ganhar vantagem é muito importante...), mas a industrialização do futebol e as largas somas de dinheiro que movimenta apurou outros mecanismos que colocam em causa a verdade desportiva.
A discussão que, neste momento, domina a actualidade do futebol nacional- a profissionalização da arbitragem - corresponde a uma perda de tempo. São toneladas de areia atiradas para os olhos dos portugueses.
Não é que a profissionalização não encerre algumas coisas positivas, mas o actual regime paraprofissional já oferece às equipas de arbitragem condições muito razoáveis. Condições financeiras, administrativas, logísticas e, também, de treino.
O aumento do número de jogos e, para os internacionais o maior número de jogos no exterior torna mais difícil a dispensa nos respectivos locais de trabalho. A profissionalização apenas agiliza a vida dos árbitros. Quando deveria estar em causa a melhoria do sector, isto é, gerar condições para que o erro de arbitragem não tivesse tanta influência nas finanças dos clubes. Um golo mal (in)validado ou uma decisão errada pode corresponder, em certas situações, a prejuízos de milhões de euros. E é isto que ninguém parece querer discutir...
Quantas toneladas mais vão ter de nos atirar para os olhos para evitar que se compreenda que o rei vai nu e que esta é mais uma forma de perpetuar um sistema que está anquilosado e é falso como Judas?...
O futebol é um jogo maravilhoso. Só não pode ser compaginável com a batotice. Para isso, o input tecnológico é crucial e decisivo. É a partir dele que se pode travar esta sensação de perda. Porque o futebol só conservará a sua dimensão de desporto universal se conseguir expulsar aqueles que colocam em causa a sua credibilidade e integridade."

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