Últimas indefectivações

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O exagero das manchetes

"No passado fim-de-semana olhei com atenção as capas dos jornais desportivos e dos generalistas e o que é que li sobre os três grandes do nosso futebol? Tudo fantástico, numa interessante mistura de adjectivação prolixa e de adrenalina ilusória para o leitor.
Mas, afinal, nesta jornada, o que fizeram os três grandes? O Sporting cumpriu a sua obrigação vencendo, em casa e na 2.ª parte, um Vitória de Setúbal bem fraquinho. O Benfica, o único a sair do seu estádio, bateu uma Académica tão suave quanto incompetente. O Porto derrotou, em casa, um Rio Ave ainda a contas com horários trocados após Kiev (o jogo seria disputado neste dia se o viajante tivesse sido o Porto ou o Benfica?) por um resultado estrondoso, mas enganador.
Perante estes 'feitos heróicos', quais foram as parangonas jornalísticas? Selecciono algumas. Quanto ao Sporting: 'Leão indomável', Slimani e Montero à solta', 'Juntos são diamante'. Sobre o Benfica: 'Águia imparável', 'Ao ritmo do tango'. A propósito do Porto: 'Final em apoteose', 'As estrelas de reserva'.
Não tivesse eu sabido quais foram os jogos e o nível exibicional, e julgaria que estava numa semana de meias-finais da Champions contra os tubarões de cada vez mais desequilibrada Europa do futebol.
Vemo-nos, assim, perante uma fantasiosa exageração (que, de sinal contrário, também há ao fracasso) que se espalha virtualmente os media. Numa bolsa de valores, os useiros adjectivos estariam pela rua da amargura, tal o dislate da oferta. Talentoso, genial, mágico, estonteante, fabuloso, fenomenal e tantos outros, bem precisariam de ser reconduzidos ao seu verdadeiro valor semântico."

Bagão Félix, in A Bola

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