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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Com aquela fé que remove montanhas

"Em 1907, o clube esteve à beira de morrer. Três homens, em particular, fizeram jus ao lema da união e garantiram a sobrevivência.

A famosa equipa de segunda categoria de 1906/1907, que subiu à primeira em 1907/1908 e garantiu a sobrevivência do clube. Da esquerda para a direita, em primeiro plano: Luís Vieira, Cosme Damião e Marcolino Bragança; segundo plano: Félix Bermudes, Eduardo Corga, Leopoldo Mocho, A. Meireles e Carlos França; terceiro plano: Henrique Teixeira, João Carvalho Persónio e José Neto.

Será de todo improvável que a equipa B venha algum dia a tornar-se responsável pela sobrevivência do nosso clube. Mas há 107 anos foi o que aconteceu! Poder-se-á afirmar que existimos graças aos hmens que aparecem nesta belíssima fotografia, de Frederico Sena Cardoso. Para além de terem vencido, em 1907, o primeiro torneio interclubes de 'segundas categorias' e dado ao Sport Lisboa o seu primeiro troféu, foram eles que chamaram a si o papel de equipa principal quando aquela que era se desmanchou. Naquele tempo, ainda sediados em Belém, lutávamos com a falta de campo próprio para jogar e dificuldades financeiras. O recém-formado Sporting Clube de Portugal gozava de excelentes infra-estruturas, mas não possuía jogadores de nível para competir. O resultado foi a debandada para o arqui-rival de oito elementos da equipa de honra e a eclosão de uma crise que deixou o jovem Sport Lisboa na iminência de fechar portas.
Perante este cenário, agravado pela partida do guarda-redes Manuel Mora para a Argentina e do 'capitão' Fortunato Levy para Cabo Verde, sobreveio uma inactividade de mau prenúncio. Foi então que alguém propôs a já referida solução histórica.
«Porque não passamos o segundo team a primeiro?» Colocada pelo jovem jogador Marcolino Bragança, esta questão trouxe a resposta sacramental. Cosme Damião, então componente desse grupo secundário, revelaria mais tarde: «Eu, por mim, concordei. Marcolino foi a alma da resistência. Perdeu o ano no liceu. Mas ganhámos todos com a continuação do clube».
Perfilhada a ideia, o 'capitão' Félix Bermudes ofereceu cinco mil réis para a compra de uma bola de futebol, manteve-se a quota de dois tostões mensais, fez-se uma subscrição pública e, «com aquela fé que remove montanhas» (palavras de Cosme Damião), foi inscrita como primeira equipa na Liga de Football a que na época anterior competira no torneio de 'segundas'. Estava garantido o futuro o clube. Foram estes jogadores que se bateram, em 1907/1908, com as fortes equipas do Sporting e do Carcavellos Club, dono e senhor do futebol nacional de então. A obtenção de um terceiro lugar significou o triunfo da união e a tão desejada sobrevivência.
Dois anos volvidos, o Benfica colocaria um ponto final no absolutismo do Carcavellos. Na década que então se iniciava, viria a conquistar oito vezes a prova afirmando-se como o melhor clube português.
Marcolino afastar-se-ia após a época de 1907/1908. Félix, desportista ecléctico e homem de letras, assumiria o cargo de presidente em 1916, 1945 e 1946. Cosme Damião, com a dira 'fé que remove montanhas', afirmar-se-ia como a alma do Sport Lisboa e Benfica."

Luís Lapão, in Mística

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