Últimas indefectivações

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Ajuste de contas

"Fazia eu zapping fugindo de telenovelas e programas de futebol que alguns designam de desportivos, quando me aparece o presidente de um importante clube. A curiosidade matou o gato e fiquei a assistir durante um bocado. Um pouco mais de uma hora que é, para mim, extraordinário recorde. Santo Deus, como era possível?! Vi o que me pareceu um verdadeiro ajuste de contas em que se envolveram um dos participantes que julgo pertencer ao painel de residentes, mas que eu desconhecia por completo dado não ser seguidor destes debates (?) e o presidente. O primeiro vinha bem munido de documentos que serviriam de artilharia para o combate e o segundo, que antecipara o cenário da batalha, a dado momento contra-atacou com outros documentos. Não se pode ter expectativas de que aqui sejam tratadas as questões verdadeiramente relevantes do ponto de vista desportivo, mas a certa altura já nem dos fait-divers do futebol se falava. Eram aspectos das vidas pessoais que se arremessavam.
Sem qualquer simpatia clubista neste contexto, é-me, à partida, totalmente indiferente qual o clube que ganha o campeonato, ainda que no seu desenrolar possa ir simpatizando mais com uma equipa, quer por razões desportivas, quer porque algum amigo ou ex-aluno lhe esteja associado. Orgulho-me de pertencer a uma família de desportistas prestigiados que serviram verdadeiramente Portugal e que, em mais de cem anos, fundaram dois clubes agora clássicos em Lisboa e no País. Transmitiram-me valores que tento honrar. Ensinaram-me a distinguir desporto de fanatismo.
Em vez de derramar lágrimas de crocodilo por vítimas de incidentes violentos em espectáculos desportivos, seria bom reflectir no modo como o tipo de confrontos facciosos em programas de adeptos nas televisões influenciam as atitudes do adepto comum, vulgarmente com menor nível cultural. Discussões baseadas em visões enviesadas pela paixão irracional exacerbam sentimentos no contexto desportivo e do país que são socialmente incendiários."

Sidónio Serpa, in A Bola

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