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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Paris: o que vai mudar daqui em diante

"A evidência dos acontecimentos obriga a que estejamos dispostos a aceitar viver numa sociedade cada vez mais securitária

Os eventos desportivos têm sido, ciclicamente, visados em atos de terrorismo. Em 1972, o ataque dos palestinianos do Setembro Negro à aldeia olímpica de Munique fez onze mortos entre a comitiva israelita; uma bomba, colocada por um fundamentalista norte-americano de direita, no parque olímpico de Atlanta, provocou dois mortos durante os Jogos de 1996; em 2002, a ETA fez deflagrar um carro-bomba nas imediações do Santiago Bernabéu, antes de um Real Madrid-Barcelona e dois anos mais tarde o estádio merengue teve de ser evacuado, por ameaça de bomba, durante um Real Madrid-Real Sociedad; o Grand National, a mais prestigiada corrida de cavalos inglesa, foi abandonada em 1997 depois de o IRA ter feito duas ameaças de bomba; em 2008, uma maratona no Sri Lanka foi alvo de um bombista suicida dos Tigres Tâmil, que se fez explodir, matando doze pessoas; o Lisboa-Dakar de 2008 foi cancelado na sequência de ameaças da Al Qaeda; e a maratona de Boston de 2013 ficou marcada pela detonação de dois engenhos explosivos, obra de extremistas islâmicos, causando três mortos.

O que mudou com Paris 2015
No atentado da última sexta-feira em Paris, a eleição de um evento desportivo como alvo não representou, pois, uma novidade; o que foi novo foi a tentativa dos bombistas entrarem no estádio e aí, com uma audiência televisiva de centenas de milhões, levarem a cabo a sua ação. Este é um patamar nunca antes atingido e que merece cuidada atenção. Qual foi a diferença entre o Stade de France e o Bataclan? A segurança. Enquanto que os terroristas entraram sem problema na sala de espectáculos da Avenida Voltaire, as bancadas do estádio de Saint Denis foram-lhes vedadas pela acção da segurança. A menos de um ano do Campeonato da Europa de futebol, que terá a França como sede, são, pois, absolutamente legítimos, os receios quanto à segurança do evento. Não sendo opção que os franceses abdiquem da organização do evento - isso seria capitular perante o terror - e sendo previsível que em Junho do próximo ano a guerra ao Estado Islâmico tenha conhecido uma significativa escalada, aquilo que todos teremos de aprender a conviver é com uma nova realidade securitária. Provavelmente o preço que temos de pagar para a defesa dos nossos valores.

Um desafio que ninguém poderá ganhar sozinho
«O risco que havia aumentou, mas vamos tomar as medidas necessárias para que o Euro/16 seja realizado nas melhores condições...»
Jaques Lambert, Presidente do Euro 2016
O presidente do comité organizador do Euro-2016 sabe que tem em mãos uma tarefa gigantesca - garantir a segurança - que só poderá levar a cabo com sucesso com o envolvimento de todos. Nada será fácil durante o Campeonato da Europa, tudo e todos terão de ser controlados e, mesmo assim, os riscos vão existir. É o mundo em estado de guerra, proclamado por Hollande.

ÀS
Cristiano Ronaldo
«Não posso ficar indiferente ao horror dos atentados de Paris. Os meus pensamentos estão com as vítimas e respectivas famílias», disse o capitão da Selecção Nacional, chegando-se à frente, como o mais influente desportista do mundo nas redes sociais. Uma tomada de posição adulta, que mostra que a vida não é só futebol.

ÀS
Zlatan Ibrahimovic
«É triste, é trágico. Estas coisas não devem acontecer. Todos os meus pensamentos estão com as pessoas que morreram e com os familiares. Tentei estar concentrado no jogo de hoje, mas foi muito difícil», afirmou o internacional Sueco e estrela maior do PSG. Também não faltou à chamada da responsabilidade.

ÀS
Rafael Nadal
«Estou devastado pelo que aconteceu em Paris e não quero deixar de transmitir todo o meu carinho e apoio à França e aos parisienses». Nove vezes vencedor de Roland Garros (de 2005 para cá só não ganhou em 2009), o tenista de Manacor não faltou à chamada e enviou a palavra solidária que se impunha, a quem tanto o acarinhou.

O mundo fez luto com azul, branco e vermelho
Os atentados de Paris relegam para segundo plano a restante actualidade (quem diria que passaríamos o fim de semana sem que se comentasse a viagem de Cavaco e Silva à Madeira?). O LÉquipe fez uma manchete exemplar, dramárica, como se justificava, mas ao mesmo tempo sóbria e digna.
Sexta-Feira 13
Algumas imagens do Stade de France, na última sexta-feira, que me irão acompanhar: a dúvida dos jogadores perante as explosões, seriam petardos ou algo mais?; espectadores e jogadores reunidos no relvado no final do França-Alemanha; adeptos gauleses num túnel, saindo do estádio, entoando A Marselhesa. O futebol, cada vez com maior visibilidade na sociedade mediatizada do século XXI, esteve no olho do furacão e haverá, por certo, um antes e um depois relativamente aos atentados de Paris, para quem demanda os estádios."

José Manuel Delgado, in A Bola

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