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quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A estabilidade competitiva de uma equipa e os reforços de inverno

"O fervor aquisitivo nas sucessivas aberturas do mercado só muito excepcionalmente corresponde a verdadeira melhoria dos plantéis.

Tenho, para mim, que o excesso de fervor aquisitivo, nas sucessivas aberturas dos mercados de compra e venda de jogadores, só muito excepcionalmente corresponde a uma verdadeira melhoria dos plantéis, das equipas e do jogo dos clubes que optam por esse caminho.
Sabemos da pressão exercida pelos empresários - tantas vezes os mesmos dos treinadores que querem muito o jogador A ou B - como sabemos da criação da necessidade do jogador C ou D, para o lugar E ou F, por força das primeiras páginas dos jornais, que sempre fazem dessas necessidades e concretizações, como de cada negócio gorado, a delícia de quem, todas as manhãs, na net, na televisão ou nas bancas para, olha, vê e lê cada notícia dessas.
Passando a imaginar o tal jogador - que até ali (quase) ninguém conhecia, mas sem o qual a partir de agora não podem passar - como o único capaz de dar o campeonato,... ou fazer com que se atinja a Europa, ou não descer de divisão.
Nada mais enganador.
Tal como as chicotadas psicológicas, ao nível do treinador, são muito poucos os reforços de inverno que são... verdadeiros reforços.
Contam-se pelos dedos de uma mão os jogadores que, adquiridos no Inverno, se vieram a revelar decisivos. Quer - o leitor - fazer um esforço para se lembrar dos que, adquiridos agora, pegaram de estaca e se transformaram em verdadeiros ícones dos adeptos e muito úteis para a equipa?
E o problema, quanto a mim, coloca-se a vários níveis.

O abalar do espírito de grupo
1. Desde logo, nos efeitos que tem na estrutura do grupo.
Pressupondo que o agora tão vulgar e regularmente chamado grupo de trabalho, independentemente das dificuldades que atravessa ou do momento de euforia, que vive, por bons ou maus resultados, respectivamente, é um grupo unido, como elemento reflexo determinado por uma liderança motivadora, a chegada de um novo elemento, ou de alguns novos elementos - senão forem mais valias reconhecidas ou não vierem colmatar uma falha em termos de quantidade só pode perturbar quem já cá está. Qual será a atitude, no treino ou no jogo, de cada jogador, que, empenhado desde o início do campeonato, no objectivo definido, não sente por se ver preterido por quem chega de novo... só porque chega de novo?
E, na maior parte das vezes, com razão, porque a ausência de identificação com algumas variáveis próprias da equipa, levam o jogador recém-chegado a falhar no essencial, no que realmente interessa, quando, pela experiência ou pela vontade, parece acertar... em tudo o resto.

A «vulgaridade» que tem de jogar
2. O constrangimento de quem vê o mundo rodar à volta de quem chega de novo é de uma violência inaudita para os que já lá estavam, especialmente se não forem jogadores de excepção.
Esses, os bons ou os muito bons, têm sempre lugar garantido, entrem no fim ou no meio da época. O problema é com os menos bons ou sofríveis, pedidos encarecidamente pela equipa técnica, ou trazidos pela estrutura directiva do clube, sem ouvir a estrutura técnica, com o que acarretam de mal para o espírito de grupo.
Esses, meninos queridos do técnico ou escolhidos por um presidente que tem capacidade de condicionar esse mesmo treinador, tendo de jogar sempre, só estragam o que estava a ser feito. Estragam tanto, quanto raramente beneficiam o grupo!

A utilidade táctica
3. E nem se diga que tantas vezes esses jogadores trazem benefícios ao modo de jogar da equipa. Desde logo porque, salvo raríssimas excepções, são necessidades ditadas pelo empenho, pela pressão e pelo envolvimento mediático com que o jogador A ou B é tratado na imprensa...
Quase sempre com a ideia de... se o negócio não for fechado em 2 ou 3 dias, o reforço seguirá o caminho do clube rival...
Chega de tanta coincidência, de tanta similitude, de tanto paralelismo. Essas notícias só interessam a quem tem ou quer... ganhar com a venda!
Porque, em clubes estruturados, com equipas altamente profissionais a acompanharem a evolução de centenas de jogadores por todo o mundo, podemos coincidir algumas vezes, mas ninguém me convence que cada jogador é sempre procurado por... 2 grandes clubes de cada País.
Pode haver coincidências, pode haver similitude na análise, igualdade nas necessidades mas essas coincidências, essa similitude, essas necessidades... não podem ser sempre as mesmas, em todas as épocas, em relação a todos os jogadores...
Ou será que não percebemos que somos (dirigentes, jornalistas, adeptos) interessados úteis, sempre ávidos de um bom reforço, de preferência tirado ao rival quando já todos o davam... no outro lado!
Serão raríssimos os casos que, comprados, assentam como uma luva no que se quer.
Ridicularizando - se tal fosse verdade - o trabalho de grupo, o treino de rotinas, o aprender a jogar de olhos fechados, os dias perdidos com treinos de posicionamentos defensivos ou ofensivos, etc., etc., etc...
Porque bastaria comprar, mesmo mal, para tudo melhorar.
E, como sabemos, os clubes, a cada compra, ficam mais pobres, mas os outros todos (jogadores e empresários) ficam mais ricos.

A excepção que confirma a regra
4. Claro que há sempre a excepção ou as excepções que confirmam a regra.
Mas esses são os casos dos jogadores de eleição, ou de elevado potencial, que potenciam tanto mais a equipa quanto mais cedo entrarem nela.
Existem, mas são raros os casos em que um ou outro jogador se adaptou a forma de jogar da equipa, transformou, com a sua cultura táctica ou com o seu posicionamento, a sua nova equipa, valorizou a forma de jogar de companheiros até aí perdidos no campo, que trouxeram pontos e, até,... campeonatos. Claro que todos nos lembramos de um ou de outro caso... porque só existe um ou outro caso. Comparativamente aos outros que são os casos de todos os dias.

Os exemplos
5. Também aqui o... diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és... se aplica na perfeição.
Ou como a personalidade de cada líder é capaz de antecipar a respectiva atitude face à abertura do mercado de transferências. A calma de uns e a certeza de outros, fazem com que vão reforçando de forma eficaz os seus plantéis, para o futuro com jogadores de futuro (passe a tautologia) ou com margem de progressão que pode ser prevista, face à sua integração e conhecimento do futebol português.
Outros há que, desde que os conhecemos, atiram a tudo o que mexe, anunciam comprar tudo o que está no mercado, especialmente jogadores feitos que se preveja possam dar, com pouco trabalho, algum resultado visível.
E se, logo na contratação, ficar previsto um elogio ao treinador em causa como o que tirou melhor aproveitamento das suas características... tanto melhor.
E se, a um treinador assim, se juntar um dirigente que só quer ouvir... com aquele é que era e se, aos dois, juntarmos um director desportivo que mais parece um porta voz, tantas e tantas entrevistas dá com um único tema... teremos o mercado de transferências perfeito.
Conhecem algum caso como este último?
Pois é..."

Rui Gomes da Silva, in A Bola

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