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sexta-feira, 1 de abril de 2016

O jovem Renato

"Quando em Leiria, faz hoje oito dias, um jovem adepto correu para dentro do relvado onde jogavam Portugal e Bulgária, não para abraçar, como seria mais normal, a estrela da companhia (CR7) mas sim o também muito jovem Renato Sanches, deu para perceber muita coisa. No mínimo, deu para perceber o impacto que o miúdo do Benfica está a provocar no futebol nacional ao ponto de motivar tão acesos debates e tão apaixonadas opiniões.
É discutível, evidentemente, se Renato Sanches já está preparado para o futebol ao mais alto nível. O que julgo que não tem discussão é na realidade o impacto que o jovem médio do Benfica já conseguiu, desde que no final de Novembro surgiu como titular da equipa de Rui Vitória.
O que tem Renato Sanches de tão especial? Talvez o fulgor e a paixão com que joga sejam a melhor resposta. E é muito jovem, o que por norma costuma afectar mais profundamente os mais jovens adeptos, como aconteceu, com as devidas diferenças, quando Cristiano Ronaldo começou a construir, ali por 2004, a grande figura do futebol mundial em que veio a transformar-se.
O impacto provocado pelo jovem Renato Sanches tem levado, como seria de esperar, muitos observadores a discuti-lo enquanto jogador. E levou Rui Vitória a tomar, ontem, posição perante algumas críticas, sobretudo relativas à integração de Renato na selecção nacional, defendendo o treinador do Benfica, de forma bastante pedagógica, pareceu-me na verdade, que se está perante um tipo de jogador de futebol não muito vulgar nos tempos que correm, alguém, segundo Vitória, que mistura «o profissionalismo com a alegria do jogador de rua».
De certa forma, creio que Rui Vitória tem razão, sobretudo quando considera que Renato Sanches é o tipo de jogador que seduz e apaixona os adeptos do futebol, pelo seu perfume africano (no que diz respeito à imprevisibilidade e explosão e ao lado genuinamente mais natural e até mais selvagem de jogar a bola) e pela tal paixão com que procura contagiar o próprio jogo.
Por outro lado, é impossível negar que, esta época, há realmente um Benfica antes e outro Benfica depois de Renato Sanches, do mesmo modo que é impossível negar a influência que o jovem teve no crescimento emocional da equipa.
Nada disso, porém, deve impedir-nos de discutir Renato Sanches como jogador de futebol, não no sentido de lhe diminuir ou ignorar as tremendas capacidades físicas, o talento natural e o potencial de crescimento, mas muito em particular na medida em que se torna indispensável não cair no exagero de o classificar já como um craque, como vulgarmente designamos aqueles que melhor dominam o que é necessário dominar num jogo de futebol.
Um exemplo: o sportinguista João Mário já é um craque - e aproveito, aliás, para concordar com o que neste jornal escreveu esta semana o treinador Vítor Manuel, quando considerou o jovem leão um jogador bem à medida, por exemplo, do 4x3x3 do Barcelona, pelas semelhanças com o estilo do fabuloso Iníesta... João Mário é um craque; Renato Sanches pode vir a ser um craque. Na justa diferença está, pois, a sensatez com que se deve analisar e discutir o jovem do Benfica.
Tem Renato Sanches, na verdade, aquele puro sangue que empolga os adeptos, tem fulgor e uma presença física absolutamente notável e muito natural, o que também ajuda a encantar a plateia. Mas não se diga que não poderá o jovem Renato ganhar outras capacidades, e sobretudo não se imagine que perderá o perfume que tem quando aprender que o jogo tem muito mais para compreender do que compreender o que fazer quando se tem a bola.
Ninguém pode ainda saber, evidentemente, se Renato Sanches irá ou não integrar s eleitos de Fernando Santos para a fase final do Campeonato da Europa, podemos apenas prever que não será fácil incluir o jovem do Benfica, considerando todo o leque de opções.
Vai depender, naturalmente, da condição dos jogadores no final de maio, vai depender do que fizerem ainda até lá, talvez até dependa, um pouco também, de como vai terminar o campeonato português... Que ninguém fica indiferente ao jovem médio benfiquista, isso é verdade, e quanto menos indiferente se fica a um jogador como ele mais importante se torna gerir bem o impacto que ele cria e mais importante é cuidar de lhe criar melhores condições para crescer na alta competição sem perdeu o seu lado mais genuíno e mais autêntico.
A verdade é que são exactamente jogadores como Renato Sanches que muito bem fazem ao futebol e mais paixão lhe podem trazer. Jogadores, como diria Johan Cruyff, que nem sempre as fórmulas estatísticas dos computadores sabem definir.
(...)"

João Bonzinho, in A Bola

PS: Porque será tão difícil, nestas comparações entre Renato Sanches e João Mário, perguntar-se quantos minutos o João Mário tinha na equipa principal do Sporting, com 18 anos, no seu último ano de Júnior?!!!

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