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domingo, 15 de maio de 2016

A ética que viria da estética

"O jogo bonito, a estética, é das coisas menos importantes no futebol. Naturalmente que todos gostamos de ver grandes jogadas e grandes golos e grandes equipas e que todos reconhecemos o génio transformador de Cruyff, o talento lapidado de Messi ou qualquer outro assombro. Claro.
Recuso, no entanto, as ideias simples de que o «futebol é isto», como se diz, quando o Liverpool vence o Dortmund por 4-3 em jogo de loucos, como aconteceu há um mês. Ou, noutro sentido, a forma como se descredibiliza a ascensão do Atlético de Madrid a grande na Europa pelo recurso a um estilo menos primoroso, então já com o parecer, também básico, de que o «futebol não é isto».
Para cúmulo, até Messi, deus do futebol fantástico, disse há dias à ESPN que preferia o Atl. Madrid campeão europeu, justificando-se com a rivalidade com o Real Madrid. O altíssimo da estética a mandar a estética às urtigas.
Nenhum adepto troca uma vitória foleira por 1-0 num campo encharcado de dezembro, num estádio mal iluminado e com bancadas às moscas, contra um adversário, desgraçado, a suar as estopinhas para correr àquelas pedaladas, com um golo de penalty, talvez mal assinalado, no último minuto. Nenhum. A única justiça é a vitória. E aí o futebol, nas emoções, é maior do que a estética, sobretudo quando esta parece estar a converter-se num tipo de ética, mais moral, racional ou verdadeiro do que o resto. Veja-se o discurso do Sporting, que reclama direitos sobre uma liga na qual, em causa própria e sem juiz a deliberar, diz ter jogado melhor. E então?
A estética é o golo. A ética também. O resto, venha de onde vier, é apenas a rudimentar dialética do lindo remate ao lado."

Miguel Cardoso Pereira, in A Bola

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