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quarta-feira, 14 de junho de 2017

Acabar em grande

"O ruído vai sobrevivendo à custa de pequenas novelas que vão alimentando o quotidiano

Estamos quase no Verão. Estão 30.º C e a maioria dos jogadores, técnicos, árbitros e dirigentes goza de um merecido período de férias. Supostamente este é tempo para recarregar baterias e para preparar o futuro.
No entanto, ainda que em meados de Junho, o ruído não acabou. Pelo contrário. Ele vai sobrevivendo há custa de pequenas novelas que vão alimentando o nosso quotidiano, agora numa fase mais carente de notícias bombásticas.
Nessa matéria, pode-se dizer que estas últimas semanas foram produtivas.
O que não falta por aí é gasolina para a fogueira. Alguns litros lançados de forma mais estratégica e ponderada, outros por manifesta incapacidade de controlar emoções e raivas acumuladas e ainda so quantos atirados sem maldade. De forma quase infantil. Como se fosse possível alguém esquecer-se que, neste mundo de potenciais pirómanos, qualquer palito não fosse confundido com um fósforo.
Em resumo: o «diz que disse, diz que fez, diz que não disse e diz que não fez» anda por aí. De novo.
Digam-me uma coisa: já não estão fartos destes filmes? Que gente é esta que se orgulha patrioticamente dos nossos grandes méritos desportivos e, ao mesmo tempo, consegue lançar a confusão interna, com rumores, intrigas e especulações permanentes?
É que isto acontece recorrentemente. De todos os lados e quase todos os dias. E com o elevado patrocínio das redes sociais que são pródigas em fazer de uma não notícia o assunto mais falado da actualidade.
Será que há alguém com dois dedos de testa que ainda não percebeu que a maioria das pessoas está cansada de teorias de conspiração, de processos de vitimização, de manias de perseguição? Não estamos todos fartos deste ambiente negativo, destrutivo, que alimenta ódios e gera revoltas? É suposto ser assim, o futebol que todos gostamos?
O que vale é que a quantidade dilui a credibilidade. E às tantas já ninguém liga. Ninguém se importa se o que diz é verdade ou meia verdade, se é mentira ou meia mentira.
O que as pessoas normais querem e precisam é de paz, elevação e respeito. Se, de facto, há provas que indiciem a mais ínfima ilegalidade, por favor avancem! Apresentem-nas em sede própria e deixem que a justiça actue a direito, com rigor, transparência e celeridade!
Todos nós queremos e desejamos um mundo mais limpo e um desporto mais são!
Mas se é apenas mais fumo, se não evidências de crime, se nada existe de palpável, então tenham paciência mas não estraguem o jogo que paga o salário a tanta gente.
Repensem a vossa ética profissional, a vossa qualidade enquanto homens, enquanto chefes de família e pessoas sérias que são. Será que era mesmo isto que queriam fazer quando fossem grandes? Será que vale tudo para vencer?
Ainda não perceberam o efeito medonho que estão a criar nos adeptos mais susceptíveis? Os ódios, as ondas de violência verbal, o aumento exponencial da intolerância, da ameaça e do insulto gratuito? Sabem o poder que têm, por força do mediatismo que vos concedem? Sabem o impacto que têm numa franja significativa da opinião pública? Porque não usam de forma construtiva, positiva, diferenciadora? Com classe e brilhantismo?
Honestamente não entendo. Não entendo o que vos move fora do campo quando é lá dentro que se ganham os jogos.
Alimentar, quase diariamente, picardias não repõe o passado, não melhora o presente e não altera o futuro.
Sejam éticos. Sejam profissionais. Sejam superiores a pequenas vendettas.
Chega de darmos tiros nos pés. Chega de vomitar ressabiamentos sem sentido, de levantar suspeitas pouco concretas, de jogar ao gato e ao rato.
O futebol português precisa do vosso lado melhor. Do vosso carácter e da vossa competência. Não dessa sombra de coisa que não vos define.
«When the game is over, the game is over».
Podemos seguir em frente, por favor?"

Duarte Gomes, in A Bola

2 comentários:

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