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sábado, 10 de junho de 2017

Ainda bem que não somos americanos

"As conversas gravadas, as acções de pirataria informática, os e-mails alheios, as alianças avulsas com inimigos, a 'linguagem de balneário' ao mais alto nível, as acusações sem fundamento e, principalmente, as delirantes interpretações da realidade dos factos que têm marcado os primeiros meses do gabinete de Donald Trump - o líder do Mundo Livre - mereceram, recentemente, a tomada de posição de um psiquiatra norte-americano no decorrer de uma conferência médica na Universidade de Yale. O Dr. Hopkins considerou que 'é uma responsabilidade ética' da classe psiquiátrica avisar os cidadãos dos EUA sobre 'os perigos para o país' da actual liderança marcada pelo 'narcisismo', pela 'mania das grandezas' e pelo 'delírio'.
Também a centenária Associated Press - a prestigiada agência de informação norte-americana - entendeu ser seu dever avisar o público de que, no respeitante à verdade dos factos e à fiabilidade do discurso da Casa Branca, 'as informações prestadas pelo presidente não são correctas e não devem ser tidas em consideração'. Não haja dúvida de que a América é muito maior do que Trump e continuará a ser 'the land os the free and the home os the brave'. Três vivas ao FBI!
Deixemos agora a situação internacional, diariamente aterradora, e entretenhamo-nos, no polo oposto, com as incomparáveis minudências do nosso futebol que não metem medo a ninguém. E ainda nos fazem dar graças por vivermos num pequeno país da Europa periférica onde estas coisas nunca acontecem, o que nos concede o privilégio, raro, de não termos nos assanhar em discussões sobre a paz mundial e o futuro do planeta Terra. Aqui só discutimos sobre personalidades comezinhas, frequentemente cómicas, e sobre factos como árbitros, vídeo-árbitros, egos dos nossos folclóricos dirigentes e, melhor ainda, sobre como os Herdeiros do Apito Dourado entendem que devem agir para voltarem a ser 'great', tão 'great' como o foram num passado recente, documentando e inesquecível. Três vivas ao Ministério Público, sempre! E três vivas ao António Simões!
Não há, como terão reparado, comparação possível entre a triste realidade mundial e, por exemplo, a festiva divulgação 'áudio' de uma conversa de três horas entre o dirigente de um clube português de futebol e 16 jornalistas que lhe acharam um piadão em 'off' tal como constava no menu do pequeno-almoço. Ainda bem que não somos americanos."

Leonor Pinhão, in Record

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