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quarta-feira, 14 de junho de 2017

Dos pecados e dos árbitros

"De uma forma ou de outra, o que os clubes procuram é seduzir os homens do apito, por vezes empurrando-os para o pecado, não o fazem é da mesma forma.

Os árbitros são humanos, erram e talvez até errem menos do que os avançados na cara do golo. Mas a humidade dos árbitros não se esgota na propensão ao erro: são um grupo corporativo, que reage às críticas com mecanismos típicos de auto-defesa de classe. Talvez seja por isso que os clubes perceberam que, para vencer, não serve de muito criticar as arbitragens. Esta ambição tem tido consequências: de uma forma ou outra, o que os clubes procuram é seduzir os homens do apito, por vezes empurrando-se para o pecado. Não o fazem é da mesma forma.
O Porto tem um histórico sólido de estimular a gula entre os árbitros. Bem sei que, na hierarquia pecaminosa, não se trata de um dos pecados mais graves, mas o desejo insaciável de comida e bebida encontra reminiscências na tradição de agraciar árbitros com 'café com leite' e esta era, de facto, proibida. Mas são práticas que estão distantes da virtude da temperança. Desde Dante que é sabido que quem cede à gula está condenado a perceber atolado em lama espessa. Pior mesmo, talvez seja a luxúria. Esse desejo passional pelo prazer corporal, que nem com 'conselhos matrimoniais' de um Papa pode ser redimido e que sentencia a turbilhões eternos, no vale dos ventos.
O Sporting vive amarrado à inveja. Um desejo exagerado por tudo o que os outros têm. Consumido por este pecado, o clube secundariza o trabalho que deve ser feito para garantir vitórias e procura encontrar justificações para os seus insucessos, também, nos árbitros. Mas desde o início, do livro de 'Génesis', quando Caim matou Abel, que ficou claro que Deus não protege os que se movem a inveja. A asserção é controversa, mas o destino de Caim foi o Leste do Paraíso, um lugar de derrotas.
O Benfica não está livre de pecados. Bem pelo contrário, incorre na soberba, uma propensão para se julgar superior aos outros. os elogios aos árbitros, promovendo o orgulho da classe, podem ser vistos como uma forma inteligente, mas também, por vezes, ostensiva de arrogância. Escolhe-se aqueles que devem ser elogiados e espera-se que a vaidade humana faça o resto. São caminhos que se podem revelar sinuosos.
Como benfiquista confesso, arrisco um conselho: apenas a humildade é capaz de contrariar a soberba. Para continuarmos nesta senda vitoriosa, devemos abandonar a ostentação (as vitórias passadas), agir com simplicidade e cultivar as virtudes. Temos de resistir à propensão ao pecado arbitral no meio de nós.

Nota: o Benfica conquistou o seu 27.ª campeonato de basquetebol. Carlos Lisboa esteve envolvido em 17 destes títulos: como jogador, director e agora treinador. Neste ano de tripleta, acompanhado por um coro de críticas, é caso para dizer que o campeonato foi mesmo do Carlos Lisboa, com muito mérito."

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