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sexta-feira, 2 de junho de 2017

«Foi uma ano de superação»


"- Tetracampeonato e Taça de Portugal conquistados. Apesar das lesões que sofreu e de não ter jogado tanto como noutros anos, foi a melhor época no Benfica?
- A melhor época penso que não, porque esta lesão também atrapalhou um pouco em relação ao número de jogos. Creio que a minha segunda temporada foi brilhante. Joguei praticamente todos os jogos e foi um ano em que me senti muito bem fisicamente, sem lesões. Este ano foi de superação para mim, pelos momentos que passei, pelas lesões que tive, graves e complicadas. A superação marcou esta época para mim, mas foi importante porque recuperei e pude contribuir de alguma forma ao longo da temporada.

- O que é que tem a dizer aos que afirmam que o Benfica não foi um justo campeão? Os rivais, por exemplo, queixaram-se várias vezes ao longo da temporada de que o Benfica era favorecido pela arbitragem...
- Não tenho de dar resposta a ninguém. Se analisarmos toda a temporada, o Benfica, desde o início, esteve sempre em primeiro. Tivemos sempre esta liderança e acabámos por conquistar três títulos. A nossa campanha foi indiscutível e fizemos um trabalho bem feito. Nos últimos anos, o Benfica tem mostrado a sua força e o trabalho bem feito tem dado resultado. Estamos felizes pelos objectivos que estão a ser cumpridos.

- Como é que a equipa conseguiu superar os problemas que foram surgindo, principalmente com as lesões? A união entre os jogadores foi importante?
- Foi, principalmente, pela estrutura do clube. Tudo o que está lá para um jogador é de um nível muito elevado. Isto dá tranquilidade a quem passa por estes períodos complicados. Em todos estes processos por que um jogador passa quando está lesionado, há profissionais de altíssimo nível. Falo da estrutura, da equipa médica, fisioterapeutas, recuperação, nutrição e fisiologistas. Ficamos chateados por ter lesões, mas é natural que numa época com muitos jogos isso aconteça. Mas a estrutura dá-nos tranquilidade, pois sabemos que na hora certa vamos voltar bem, até melhor.

- Pode dizer-se que o jogo do título foi mesmo o de Vila do Conde, com o Rio Ave?
- É complicado falar num jogo apenas, sendo que o campeonato tem 34 jornadas. Houve vários momentos em que mostrámos que estávamos fortes para ser campeões e o jogo no campo do Rio Ave foi um deles. É lógico que quanto mais perto do final, mais a tensão aumenta e os pontos ficam difíceis de conquistar. Houve vários jogos em que o Benfica mostrou poder e que seria possível conquistar o tetracampeonato.

- Em Moreira de Cónegos houve outra situação polémica: foi acusado por Diego Ivo de ter afirmado que o Moreirense devia descer de divisão. Como é que responde a esta acusação?
- Aquilo foi uma falta de respeito dos jogadores do Moreirense. Fiquei um pouco chateado com a forma como o jogo acabou e eles fizeram algumas coisas fora das regras do jogo. Quando acabou falei com ele para que não voltasse a fazer aquelas coisas.

- Houve alguns jogos nos quais pareceu mais nervoso. Sentiu-se provocado pelos adversários?
- É normal, mais ainda com o campeonato a aproximar-se do fim. Aí, a tensão aumenta e as provocações existem. Cabe-me ter um pouco mais de tranquilidade para não entrar nesse jogo e para não me prejudicar e à equipa. Consegui não prejudicar a equipa, basta ter mais tranquilidade nestes momentos que fazem parte do futebol.

- Que importância teve Rui Vitória nestes últimos dois anos?
- Quando chegou do V. Guimarães, tínhamos expectativa muito grande por ser um treinador que queria muito vencer aqui e ter a oportunidade de gerir uma equipa como o Benfica. Lembro-me do discurso dele no primeiro dia como se fosse hoje. Disse-nos isto: 'A maior parte dos que estão aqui já foram campeões e eu não fui.Quero muito ser campeão e pegar já este gosto de vencer.' Ele tem feito isso a cada dia, a cada temporada. É um treinador que conhece muito o futebol, tem muitos conhecimentos, estuda muito os adversários e faz um trabalho diário muito interessante. Estamos todos satisfeitos e felizes por estarmos a trabalhar com um pessoa como ele que chegou a um grande para mostrar trabalho e valor. Torcemos para que continue a ter sucesso no Benfica durante muitos anos.

«Presidente tem de vender para diminuir a dívida»
- Nélson Semedo, Grimaldo e Lindelöf são jovens com muito mercado. Seria benéfico para eles continuarem mais uma época?
- Se dependesse de mim dizia-lhes para ficarem, pois são jogadores de qualidade, já têm o ADN do Benfica e já conquistaram coisas importantes com o clube. Mas sabemos que o factor financeiro pesa muito em relação aos outros países. O clube precisa de vender, é uma política do presidente também para diminuir a dívida. Até já falou isso connosco em conversas diárias que temos sobre esse objectivo dele, que passa por vender jogadores que saem da formação. De certeza que estão todos prontos. Lindelöf, Nélson Semedo, Ederson, Grimaldo… São muitos os jogadores do plantel que têm dado respostas muito boas, e, sem dúvida nenhuma, os grandes clubes europeus não deixam passar estas oportunidades. É natural que isso aconteça, porque o Benfica também precisa de fazer estas vendas. 

- Ederson está de saída para o Manchester City. Surpreendido pela qualidade demonstrada? E acha que tem potencial para ser o futuro guarda-redes do Brasil?
- O Ederson chamou a minha atenção quando ainda estava no Rio Ave, num jogo que fizemos em Vila do Conde na minha primeira temporada aqui. A qualidade do jogo com os pés, a tranquilidade na saída de bola... Enfim, quem sou eu para falar das características de um guarda-redes, mas percebi logo que era diferente. Tem crescido muito no Benfica. Mostrou tranquilidade e uma maturidade impressionante para um jogador desta idade. Substituiu o Júlio César, um jogador consagrado, quando ele sofreu uma lesão complicada. Assumiu o lugar, assumiu bem e torcemos pela felicidade dele. Vai para um clube que tem um treinador cujo estilo é muito parecido com o estilo dele de jogo. O Ederson é um guarda-redes, mas é muito técnico com as mãos e com os pés. Está em boas mãos e vamos torcer pelo sucesso dele. Falando na selecção, creio que, se mantiver o nível no Manchester City, é um dos favoritos para ser o titular do Brasil.

- Júlio César viveu uma temporada diferente, não jogando tanto. Como acompanharam esta época dele?
- O Júlio é um jogador consagrado, que ganhou tudo. Esteve muitos anos em Itália e a representar a selecção brasileira. Todos conhecem a carreira dele. Aqui no Benfica teve um período muito bom logo no início, no primeiro ano. Depois teve uma lesão complicada que o deixou fora quatro ou cinco meses, e foi aí que o Ederson assumiu o papel de titular, com Rui Vitória a mantê-lo esta época. Mas o papel do Júlio foi ainda mais importante, pois participou muito no crescimento do Ederson, ajudou muito o menino, dando-lhe muita tranquilidade. Pela qualidade do Júlio podia ser uma sombra ou dar-lhe muita pressão, mas esteve sempre disposto a ajudar o Ederson. Teve um papel importante, também pela experiência e pela qualidade que tem. Não jogou muitos jogos, mas foi muito importante fora do relvado por tudo o que nos passou."

- Qual foi o momento mais complicado durante a recuperação do pé direito? Os seus colegas tentaram sempre apoiá-lo...
- Foram todos importantes, desde a família, aos meus companheiros e até ao staff do Benfica. É complicado, porque tinha feito dois anos maravilhosos e no terceiro ano comecei a temporada com uma lesão grave. Depois ainda tive um problema na cervical e isso foi adiando o meu regresso. Mas tive tranquilidade, paciência e trabalhei muito. Também foi uma aprendizagem para mim e o mais importante foi ter voltado bem. Contribuí de alguma forma, juntamente com os meus colegas, e terminar a época a vencer estes títulos deixou-me muito feliz. Agradeço a todos no Benfica e aos meus familiares porque, apesar do período difícil, a forma como isto terminou deixou-me muito feliz.  
- Temeu que a paragem viesse a ser mais demorada? Houve uma altura que já se treinava no relvado, mas com cuidados…
- Fiquei preocupado, porque a lesão que tive no tornozelo foi muito grave. Foi a pior que já tive. Já me lesionei nos ligamentos cruzados, e até parei seis meses, mas não se compara com esta no tornozelo. Foi uma infecção e o departamento médico, com o doutor António Martins, teve de agir muito depressa. Foi uma coisa muito grave e poderia prejudicar-me no futuro. Foram três ou quatro meses parado e não esperava. Na primeira lesão, depois de duas ou três semanas, já estava disponível. E até joguei contra o Nacional. Mas, com a infecção, fui muito prejudicado e fiquei mesmo muito preocupado. Mas, com tranquilidade, com a ajuda do doutor António Martins e do Bento Leitão, fui recebendo todas as indicações. Nas primeiras semanas foi muito à base de antibióticos, e só depois iniciámos a fisioterapia.

- O departamento médico foi colocado em xeque, com a sua situação e com o grande número de lesões...
- Essas críticas foram muito injustas. As pessoas ‘pegaram’ muito forte com o departamento. Fiquei muito triste e foi por isso que, depois de voltar da lesão, citei muitas vezes o departamento médico. Foram fundamentais, deixaram-me tranquilo em relação às graves lesões.

- Foi importante o apoio da Susana Torres, que também já tinha ajudado Éder, na fase final da época?
- Conhecemo-nos melhor agora, mas é algo mais pessoal e só posso dizer que estou feliz.

«Voltar à selecção é o meu objectivo»
- A selecção do Brasil continua a ser um objectivo? Para o Mundial’2018?
- É o meu objectivo. Sei que é difícil estar lá, ainda mais agora com o Tite. Mesmo entre nós, jogadores que estão na Europa, comentamos uma única frase: ‘O Brasil voltou.’ Hoje, o Brasil é candidato a ser campeão na Rússia. Tite acertou, é um treinador com grande conhecimento. Mas a selecção é o meu objectivo, apesar de haver poucos jogos de qualificação até lá. Como o Brasil já está apurado, pode ser que ele faça alguns testes, mas também não vai mudar muito. Não deixa, porém, de ser um objectivo meu e, enquanto houver esperança, vou trabalhar para voltar. Fazendo uma época muito boa no Benfica, as hipóteses são boas porque estou num clube fantástico.

- Acredita que a Selecção portuguesa tem uma palavra a dizer na Taça das Confederações?
- Torci muito por Portugal no Europeu! Como se fosse português! Depois da fase de grupos, então, foi demais! Hoje, vejo Portugal como favorito, assim como a Alemanha, Brasil e mais uma ou duas selecções. Portugal está com um lote muito bom de jogadores, ganhou confiança com esta conquista do Euro’2016 e isso é importante para dar seguimento na Taça das Confederações e, depois, no Mundial’2018.

«Nuno disse-me que a decisão era da direcção»
- A época também ficou marcada pelos duelos com o FC Porto, e a verdade é que, na Luz, aconteceu aquele choque com Nuno Espírito Santo, que deu origem a alguma polémica pela sua saída ter coincidido com a entrada dele no Valência. Falou com o Nuno quando ele chegou ao clube espanhol?
- Sim, tive um contacto muito rápido com ele. Quando me apresentei no Valência já sabia que não ia ficar no plantel. Quando cheguei, o Nuno já era o treinador. Chamou-me ao gabinete dele para me dizer que era uma decisão da direcção mas que ia treinar normalmente até ficar com o futuro decidido. Foi mais uma conversa nesse sentido e eu acabei pro ficar mais duas ou três semanas. Até porque me apresentei depois dos outros jogadores que iam ficar no plantel. Essa decisão já tinha sido tomada durante as minhas férias no Brasil e, por isso, estivemos juntos durante pouco tempo. Depois ele seguiu a vida dele no Valência e eu segui a minha aqui. Foi muito bom ter vindo para o Benfica.

- E no Estádio da Luz, teve oportunidade de falar com ele depois daquele choque?
- Acho que é normal estas coisas acontecer no futebol. Sabia que isso ia ter uma repercussão muito grande até pelo facto de muitos pensarem que foi por ele que não fiquei no Valência. Não teve nada a ver. Já sabia que iam falar muito disto, mas estou tranquilo. Faz parte do futebol. Falei com ele depois do jogo. Estava próximo do túnel, o Nuno chamou-me e disse-me: 'Jonas, posso dar-te a mão?' Eu disse que sim, apertámos a mão e cada um foi para o seu balneário.

«Diminuir os erros é importante»
- O video-árbitro estreou-se oficialmente nesta final da Taça de Portugal. É a favor destas tecnologias? O que é que sentiu, em particular naqueles momentos em que o árbitro conversava com os seus assistentes do vídeo-árbitro?
- É diferente, é diferente... Mas, se analisarmos, assim é mais justo. Todos têm falado muito nisto, mas é importante que não se perca muito tempo no jogo. Na final da Taça de Portugal houve até um lance em que o árbitro ficou ali à espera para perceber se marcaria penálti a nosso favor ou não, ou se tinha sido um lance normal. Depois tivemos a oportunidade de ver pela televisão e foi mesmo um lance normal, em que a bola bate na mão do jogador do V. Guimarães sem intenção. Aí segue o jogo. Creio que será mais justo e diminuir os erros é importante para todas as equipas.

«João Félix tem tudo para mostrar potencial»
- A equipa tem perdido jogadores influentes, como Renato Sanches e Gaitán, mas, mesmo assim, manteve a qualidade e conquistou títulos. Qual foi o segredo?
- O planeamento que o Benfica tem feito nos últimos anos. A primeira figura é a do presidente, que tem mudado a história do clube. Há uns anos, o clube não ganhava tantos títulos em relação aos rivais e, agora, voltou o Benfica que todos conhecem. Esse planeamento tem dado certo e, independentemente dos jogadores que têm saído, já há ali sombras, no plantel e também na formação. Hoje há muitos jogadores na formação que têm tudo para dar certo e para serem como Renato Sanches, Nélson Semedo ou Ederson. O Benfica tem trabalhado muito nisso e tem ganho títulos na formação, também. Com o planeamento em relação a essas perdas importantes, não temos sentido muito e a verdade é que antes de eles saírem já se trabalha os jogadores que vão substitui-los.

- E quem é a sua sombra no Benfica?
- É difícil falar, mas hoje temos um jogador que, pelo pouco que já treinou connosco... Mas, por favor, não quero que coloquem pressão no menino! Falo do João Félix, que é um jogador que tem tudo para mostrar o seu potencial aos adeptos do Benfica, não apenas em Portugal mas também na Europa. É um menino que tem enorme qualidade, frieza e potencial muito grande com a bola nos pés. Torcemos para que ele e outros jogadores tenham sucesso no Benfica.

- O José Gomes também já trabalhou com o plantel principal esta época. Vê nele potencial para ser o futuro titular do Benfica e de Portugal?
- O Zé é um menino querido por todos nós. Joga numa posição diferente em relação ao Félix, que vem mais de trás. O Zé é aquele ponta-de-lança que está próximo da área. Remata muito bem e tem tranquilidade e frieza, que são características muito importantes para uma avançado. Tem uma força física... A idade ajuda, mas ele é muito forte fisicamente. Tem as características de um jogador moderno e penso que tem tudo para estar integrado no grupo a ajudar-nos em pouco tempo.

«Seferovic vai ajudar-nos bastante»
- E está preparado para o concorrência de Seferovic na próxima temporada?
- Fiquei a saber há pouco tempo que o Benfica contratou esse jogador, mas penso que vai ajudar-nos bastante. É internacional estava a jogar numa liga competitiva como é a alemã. É importante termos grandes jogadores connosco para somarmos e para continuarmos o nosso caminho para conquistar títulos.

- Hermes chegou em Janeiro numa perspectiva de futuro. Pelo que já conhece dele, vê-o com capacidades para, no futuro, poder ser titular no Benfica?
- É um jogador muito intenso, tem um cruzamento muito interessante e pega muito bem na bola. Mostrou isso no Grémio. É muito rápido, tem uma grande força física e explora muito bem essas características. Aos poucos tem-se adaptado, porque as diferenças são muito grandes, principalmente ao nível da táctica. Aqui é muito diferente do Brasil e, aos poucos, ele vai aprendendo. Em pouco tempo vai jogar com mais frequência e vai dar bons resultados à equipa.

«É difícil deixar o Benfica nos próximos dois anos»
- Confirmou ter recebido propostas da China. Por que motivo recusou?
- Na verdade temos recebido algumas sondagens e propostas de clubes da China, mas a minha felicidade aqui resume tudo. Quando cheguei ao Benfica queria muito ficar bastante tempo no clube e marcar o meu nome na história, ganhando prémios colectivos e individuais, e isso tenho conseguido. A felicidade não tem preço. Sou muito grato ao clube, amo este país e estou muito adaptado. A minha família pensa muito no bem-estar e como seria na China, onde a cultura é totalmente diferente. A minha felicidade, hoje, é aqui.

- Se voltarem a colocar-lhe uma oferta milionária em cima da mesa coloca essa hipótese?
- Penso cumprir o contrato, que renovei por dois anos. Chegaria ao fim com 35 anos. Mas, no futebol não podemos dar as coisas como garantidas. Só sairia se aparecesse alguma coisa importante para o clube e para mim. É muito difícil deixar o Benfica nos próximos dois anos.

- Qual é o seu papel junto dos mais jovens?
- Procuro passar experiência nos momentos mais delicados da época, falando com eles dentro e fora de campo.

«Já conheço todos os atalhos da Luz»
- Soma 85 golos em 111 jogos pelo Benfica, mais do que em outro clube onde jogou. O que encontrou de especial na Luz?
- Encontrei tudo aqui! Temos tudo, não apenas os jogadores, mas também as famílias. A minha mulher e a minha filha ficam doidas por ir ao Estádio da Luz. E dentro de campo encontrei pessoas fantásticas. Sempre penso que teria de conhecer este clube, porque nunca imaginei viver o que tenho vivido aqui. Trabalha-se muito uma palavra que está sempre comigo: humildade. Isso fez com que eu tivesse uma ligação muito forte com o Benfica, pois vejo no clube características que levo para a minha vida. Características implementadas pelo presidente. Isso ajudou-me bastante e, em campo, os meus companheiros também ajudam e isso deixa a bola fácil para os golos. São números que me deixam muito contente e arrisco dizer que nunca tinha vivido isto na minha carreira.

- De todos os golos que marcou esta época, apenas um foi fora, tirando a Supertaça. Encontra alguma explicação?
- É como já disse, o Estádio da Luz é especial, diferente. É lógico que também tenho o objectivo de marcar golos também fora, mas não sei, já conheço todos os atalhos da Luz... O ambiente, os adeptos, que são sempre 50 ou 60 mil, mexem muito comigo.

- Como explica o entendimento que teve com Mitroglou nas duas últimas épocas?
- Sempre gostei de jogar com jogadores que ficam mais próximos da área e que me permitem vir mais de trás. O Mitroglou tem essas características, tal como o Raúl Jiménez, que até é mais móvel. O Mitroglou fica mais próximo do golo e é um belíssimo jogador, com enorme tranquilidade para rematar com o pé esquerdo, cabeça, pé direito. É muito forte no um contra um.

«Todos esperavam mais do Sporting»
- Depois da luta pelo título na última temporada, mesmo até à última jornada, esperava mais do Sporting?
- Acho que todos esperavam mais, até pelo que o Sporting fez na última temporada. Houve saídas de alguns jogadores importantes mas, em contrapartida, contrataram outros. Penso que o Sporting não teve a regularidade que devia para ser campeão e foi por isso que acabou por ter dificuldades para lutar até ao final.

- O FC Porto teve várias oportunidades para se isolar no campeonato. Alguma vez sentiu as coisas tremidas?
- Não, tremida não. Nunca estivemos preocupados, em momento algum, com a possibilidade de perder a liderança ou até o campeonato. Sabemos que houve momentos da época em que poderíamos ter perdido a liderança e ter períodos de maior pressão, mas estivemos sempre focados no nosso trabalho. Era disso que dependíamos e dava-nos tranquilidade e confiança para continuarmos até ao final. Mesmo se perdêssemos a liderança, porque só dependíamos de nós. O principal jogo em que poderíamos ter perdido o primeiro lugar foi antes do clássico, sendo que, depois, jogaríamos esse clássico em casa com o apoio dos nossos adeptos. Tudo poderia mudar de uma jornada para a outra, mas só dependíamos de nós.

- Ao contrário da última época, o Benfica não perdeu nenhum clássico. Isso também foi determinante para a conquista do título, até pela confiança?
- Falou-se muito disso, dos clássicos. No ano passado vencemos apenas um, que foi o principal, pois deu-nos o título. Este ano vencemos, empatámos e acabámos por ser campeões. Não são os clássicos que decidem o campeonato, mas sim a regularidade. O Benfica tem feito isso nos últimos anos e é por isso que tem sobressaído em relação aos rivais.

«Farei tudo para preservar a minha família»
- Preservou sempre a imagem da família. Por protecção?
- Sempre fiz isso. Às vezes uso as redes sociais porque sabemos que hoje em dia faz parte do trabalho. Mas sou muito discreto. Fora de campo, gosto de aparecer o mínimo possível. Gosto de aparecer é dentro de campo. Gosto muito de preservar a minha família e tudo o que puder fazer, farei. É algo meu.

- A sua mulher e as suas filhas já estão adaptadas a Portugal?
- Amam Portugal! Agora, quando vou de férias, a minha filha já diz: ‘Vamos voltar para Portugal!’ Estão muito felizes aqui. Em Espanha também gostávamos muito, mas a minha mulher ficava muito sozinha lá. Aqui, não. Já tem amizades com mulheres de outros jogadores, como a Brenda, mulher do Luisão, a Susana, do Júlio César, ou a Gabriela, do Jardel. E mesmo fora deste meio já têm mais amizades.

- Fora do futebol, é a sua mulher o seu maior apoio?
- Sem dúvida! Ela é que comanda tudo aqui em casa, faz tudo de maneira a que, quando chego dos treinos, esteja tudo pronto para o descanso e para a recuperação. Ou para o passeio, se for o caso.

- Tem um irmão advogado e outro farmacêutico. Quando é que decidiu ser futebolista?
- Na verdade fiz dois anos de farmácia, mas sempre joguei. Depois houve um momento em que tive de optar: futebol ou estudo. Quando fazia uns testes num clube, não ficava porque nunca conseguia ficar longe dos meus pais. Desisti do futebol e iniciei o curso de farmácia. E porquê? Porque nem eu sabia o que queria! Mas pensei que ser advogado implicava muita leitura e, naquela altura, já não gostava muito de ler (risos). Advogado estava arrumado! Mas o meu irmão tinha aberto uma farmácia e comecei a ajudá-lo, a entregar medicamentos. Apanhei o gosto e comecei o curso, mas também vi que não era a minha onda e tinha o sonho de ser jogador. Até que o meu pai, quando tinha 20 anos, ligou para um treinador para ver se podia fazer uns testes. Achávamos difícil, mas comecei no Guarani o meu sonho e foi incrível. Não imaginava tornar-me jogador aos 20 anos. Ainda hoje mantenho contacto com este treinador, sou-lhe muito grato.

Soltas
- Quem é o mais animado do plantel?
- São muitos... Mas hoje diria o Eliseu!

- Quem é o mais sério?
- Temos os meninos... Cervi, Kalaica e Jovic brincam connosco, mas com os mais velhos eles ficam mais na deles.

- Quem é o mais vaidoso?
- São tantos! Pizzi, Samaris, Carrillo, Salvio... Gostam de ser cuidar!

- Quem é o DJ de serviço que escolhe as músicas no balneário?
- Nos últimos tempos era o Samaris, mas até estava a ser criticado porque algumas músicas dele não eram muito boas, principalmente naqueles momentos importantes. Estou a brincar! O Samaris é o nosso DJ e tem-se dado bem.

Águias numa palavra
- Benfica
- O principal clube da minha carreira.

- Rui Vitória
- Um grandíssimo treinador.

- Luís Filipe Vieira
- Mudou, nos últimos anos, a história do Benfica.

- Luisão
- Capitão, liderança, conhecimento e humildade.

- Adeptos
- Incríveis a apoiar sempre a equipa. Fora também mas, para mim, jogar na Luz é algo maravilhoso. Jogar perante 50 ou 60 mil adeptos, que é a média, é gratificante.

- Família
- A minha base. Os meus pais, os meus irmãos, a minha mulher e a minha filha. Somos todos muito unidos e são a base de tudo para mim.

- Golos
- O grande momento no futebol.

- Jonas
- Pessoa alegre, simples, humilde e que procura sempre fazer o melhor para as pessoas que estão à volta."

Entrevista de Filipe Pedras e Pedro Ponte, a Jonas, in Record

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