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quarta-feira, 5 de julho de 2017

Videoárbitro? Um projeto bebé que fazia falta ao futebol moderno e à arbitragem. Ponto

"Vamos então fazer um balanço sobre a actuação do Sistema do Videoárbitro na Taça das Confederações.
Por partes. A tecnologia em si é boa. Muito boa.
Está bem construída, bem pensada e funciona (quase sempre) sem falhas. É útil e fazia falta ao futebol moderno e à arbitragem. Ponto.
A partir daí, a questão central passa a ser outra: a da eficácia da sua utilização.
E sobre este aspecto, convém recordar algumas coisas:
Este é um projecto bebé. Um projecto que está a dar os primeiros passos e que ainda se encontra em fase de testes.
A introdução do Sistema de Videoárbitro no futebol foi um passo corajoso e arrojado, que terá impacto fortíssimo no jogo, nos jogadores, no sistema táctico das equipas e sobretudo na rotina em campo dos árbitros. Terá também impacto nas expectativas dos adeptos e de todo o universo do futebol.
Algo assim leva tempo. Leva tempo a interiorizar. A afinar.
A FIFA, à semelhança de outros países (como Portugal), quis participar nesta fase piloto. Porquê? Porque tenciona aplica-lo no Mundial de 2018, na Rússia. Legitimamente.
Qual é que foi o grande risco dessa decisão?
É que, ao contrário das federações nacionais (que têm jogos de menor dimensão mediática para realizar os seus testes), só o poderiam fazer nas suas competições: Mundial de Sub 20, Mundial de Clubes, Taça das Confederações...
Tudo montras de grande dimensão, vistas e escrutinadas por centenas de milhões de pessoas em todo o mundo.
Foi uma decisão compreensível mas arriscada, que comportava riscos.
E o certo é que, tendo corrido bem na maioria das vezes (existiram sete situações claras onde a colaboração do VAR foi crucial para decisão final), naturalmente que teve menos bem em momentos importantes.
Num deles, terá falhado o próprio VAR: o penálti do José Fonte (pisão a um jogador chileno) foi claríssimo nas imagens mas o videoárbitro teve leitura diferente e absteve-se de intervir.
Noutros dois, falhou apenas e só o árbitro: no México/Nova Zelândia (tudo correu mal) e, de forma mais clara, na Final entre Alemanha e Chile, onde um vermelho (evidente e inquestionável em todas as imagens) ficou por exibir.
Reparem: em nenhum desses erros falhou a tecnologia em si.
O que correu mal foi a sua aplicação pelos árbitros. A intervenção humana.
E o que é isto nos diz a todos?
Diz-nos que esta é mesmo uma mudança de paradigma e que a sua afinação requer tempo, treino e formação contínuas.
Um bom VAR tem que ter um conjunto de competências, técnicas e humanas, distintas. Muito distintas. E isso não se aprende de um dia para outro. Tem que conhecer bem as leis de jogo. Tem que estar familiarizado com o protocolo aprovado.
Tem que saber analisar imagens e identificar potenciais erros. Tem que saber como pedir informação ao técnico de imagem de forma a que ele entenda qual o incidente a rever e qual a melhor imagem/ângulo a facultar. Tem que perceber quais os timings da sua intervenção junto do árbitro e, sobretudo, tem que saber qual a melhor forma de passar essa informação ao árbitro - que está pressionado em campo - com serenidade, segurança e credibilidade.
Tem ainda que saber juntar tudo isso a uma enorme eficácia, ou seja, fazer muito e bem, o mais rapidamente possível.
Isso implica, de facto, muita coisa.
E implica sobretudo que o VAR tenha uma forte personalidade. Que seja imune a pressões ou ruídos exteriores e que tenha a clareza de saber obedecer apenas e só à sua consciência.
Em suma, deve ser alguém tecnicamente muito competente e pessoalmente capaz, independente e corajoso.
Grande parte dessas competências, sobretudo as técnicas, requerem muito treino.
Treino em sala, com visionamento exaustivo de imagens e com a realização de sucessivas simulações (role play) ao nível da comunicação.
Mas também "treino" em competição. Porque só o ambiente real, a pressão dos tempos de espera, o ruído infernal do público e o enorme stress competitivo, colocarão verdadeiramente à prova a capacidade de alguém tomar excelentes decisões, de elevada responsabilidade, no menor espaço de tempo possível.
Um excelente árbitro não será, necessariamente, um excelente VAR. E é importante que todos entendamos isso com urgência.
Não esperem milagres. Seria pedir demasiado nesta fase e penso que já todos percebemos porquê. 
Mas não duvidem: erros grosseiros, de lances objectivos e transparentes, que escapem ao olho do árbitro em campo, deixarão de existir.
E com o tempo, muitos outros também. Haja tolerância e tempo para deixar crescer, sustentadamente, uma iniciativa que tem tudo para dar certo."


PS: Dois erros evitáveis que aconteceram no protocolo na Taça das Confederações:
- A obrigatoriedade de ser o árbitro de campo a 'pedir' a actuação do VAR! No lance do José Fonte, o VAR devia ter avisado o árbitro de campo... simples.
Na Final da Taça de Portugal, no video que a FPF divulgou, com a entrevista do Hugo Miguel, foi notório que o Soares Dias 'aconselhou' mesmo quando não foi solicitado... E isso deve acontecer sempre, agora o nível e confiança entre o VAR e o árbitro de campo tem que ser grande, ter árbitros de nacionalidades diferentes, que nem falam a mesma língua, não é fácil...
- A possibilidade do árbitro ir à linha lateral rever o lance, não faz sentido. Perde-se tempo, e vai criar um potencial foco de muita contestação com os 'bancos' a protestarem...
A opinião do VAR deve ser valorada, ponto final... Além disso, é muito mais complicado um árbitro de campo, alterar uma decisão sua, vendo o lance, na linha lateral... existe sempre uma relutância maior em admitir o próprio erro... como foi visível na Final com a cotovelada do Jara ao Alemão!

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