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domingo, 24 de setembro de 2017

O reconforto de não estarmos sós

"A coragem demonstrada por Fernando Gomes é, ao mesmo tempo, um atestado de falta dela de outros que sempre se mantiveram em silêncio

Até que enfim aparece alguém com responsabilidades maiores no futebol, com coragem para enfrentar aquele que é, indiscutivelmente, o maior e mais grave problema do futebol português: a guerra civil da descredibilização e da desmoralização de estruturas, de organismos, de entidades, de pessoas que, de alguma forma, estão ligados ao nosso mundo da bola. E até que enfim surge alguém, do mais alto nível de competência e de estatuto para apontar o dedo directamente à cara dos principais dirigentes dos clubes.
Não sendo os únicos, são, de facto, esses, os principais culpados e aqueles que se sentem confortáveis numa impunidade digna de uma República das Bananas em que procuram transformar o futebol para melhor o poderem manipular, para o poderem trair sem outros custos que não sejam o de uma desgraçada imagem de senhores feudais do século XXI.
O artigo que Fernando Gomes divulgou através dos três jornais desportivos e do jornal Público tem muitas e importantes virtudes. A primeira, é de ser escrito por alguém que tem credibilidade para o fazer; a segunda, é de não se limitar a um conjunto de lugares comuns tão habituais em responsáveis nas mais diversas áreas da sociedade portuguesa e que nunca querem afrontar poderes; a terceira, é de fazer uma defesa leal e solidária do mundo da arbitragem, aquele que tem sido mais fustigado e que tem sofrido as maiores humilhações por quem não tem moral nem para estar calado; a quarta, é a de ter colocado o problema no exacto ponto em que deve ser colocado: no actual estado de desenvolvimento do futebol no Europa, a guerra entre os maiores clubes nacionais corre o risco de arrasar toda e qualquer hipótese do futebol português alguma vez se aproximar dos mais desenvolvidos, que estão num patamar superior, mais do que na qualidade competitiva, qualidade de cultura que, no fundo, acaba por reflectir a qualidade democrática de cada país; por último, a quinta virtude é a de ser um texto directo, sem ser hostil; o objectivo, sem ser seco de conteúdo; decisivo porque deixa aviso imediato e firme: ou os dirigentes dos principais clubes, leia-se, Benfica, Sporting e FC Porto, se fazem regressar à dignidade própria de um estado de direito e acabam, por vez, com a assombração do mundo do futebol, arrastando imensas marés de eunucos e de ignorantes, ou terão de responder pela responsabilidade histórica de acabar, de uma vez, com o espectáculo, com o negócio e com os seus próprios clubes que fingem defender no objectivo supremo de se defenderem a si próprios, dos seus traumas, das suas insuficiências, das suas mal disfarçadas inseguranças.
Entre os destinatários do texto de Fernando Gomes ficou também claro que a Liga de Clubes e o Estado (leia-se o universo do poder político, seja ele executivo, seja legislativo) aparecem bem focados na fotografia dos que têm afirmado a sua ineficiência e, até, a sua inutilidade pela ausência de acção.
Pedro Proença, o presidente da Liga, está pois entre os primeiros desafiados e, mesmo que apanhe o comboio em andamento, não o pode deixar partir, sob o risco de ficar totalmente desacreditado. Quanto ao governo, sobretudo aqueles que têm responsabilidades na pasta do desporto e que andaram irresponsavelmente entretidos com o folclore da proposta legislativa para que não houvesse jogos de futebol em dias de eleições, se continuarem em silêncio depois do que Fernando Gomes escreveu e propôs, deverão ter, no mínimo, a dignidade de se demitirem dos cargos e das funções que, de facto, nunca exerceram com verdadeiro sentido de Estado.
Por fim: apenas assinalar o reconforto de não nos sentirmos sós."

Vítor Serpa, in A Bola

PS: Três notas:
- Portugal, aquele país, onde alguém que ocupa um cargo público, toma uma posição pública, atrasada no tempo... defendendo o óbvio, aquilo que o bom senso de uma pessoa normal obriga a defender, e é imediatamente considerado um herói !!! Apelidar de corajoso quem no fundo só está a fazer a sua obrigação, mesmo que 'atrasada', é ridículo...
- Mais ridículo, no meio disto tudo, é não conseguir 'chamar os nomes pelos bois' !!! Nem por parte do Presidente da FPF, nem dos próprio colunista, que volta a 'meter todos no mesmo saco'!!!
- Hiper-ridículo é o autor desta crónica exigir a demissão do Secretário de Estado do Desporto, por de facto nunca exercer com verdadeiro sentido de Estado as suas funções, quando o autor desta crónica, à muitos anos, não tem demonstrado capacidade para exercer com coragem, dignidade e independência as funções que ocupa no Jornal que dirige!!!

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