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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Campeonato entre parêntesis

"Discordo do modo como são constituídos os grupos para apurar os eleitos para um Mundial de futebol.

Selecção e selecções
1. Campeonato interrompido pelos jogos entre selecções, tempo ideal para vaguear entre os interstícios que as eliminatórias para o Mundial de 2018 nos permitem. Sem o nervosismo inerente à paixão clubista, mas com a ansiedade imanente ao amor pátrio. Mandaria a correcção política escrever que a sensação é a mesma, mas é meu dever escrever o que sinto, mais do que aquilo que racionalmente deveria pensar. Porque no pensamento a racionalidade leva-me a pôr Benfica e Portugal (ou Portugal e Benfica) no mesmíssimo plano. Já o coração é mais incontrolável, deambulando ardilosamente entre os neurónios. E aí o Benfica torna a dianteira. Por ele me transformo, por ele usufruo de alegrias quase infinitas, por ele sofro até ao tutano da alma. E isto não significa que não me sinta orgulhosamente e exuberante, como português, quando a nossa bandeira sobe bem alto e quando ultrapassamos barreiras de um país pequeno face a países, mais ou menos arrogantemente, auto-intitulados fortes. Que me desculpem os mais puristas patriotas (e alguns de pacotilha), mas só quem tem uma verdadeira paixão clubista perceberá o que escrevo. Seja benfiquistas, portista ou sportinguista. Assim como compreendo muito bem os que são apenas sócios da selecção. Falo com muitos e, sobretudo muitas. E o que constato? Que, salvo raras excepções, não têm clube ou, não têm paixão e militância emocional.
2. Discordo do modo como são constituídos os grupos para apurar os eleitos para um Mundial de futebol. Não que ponha em causa o carácter universal da competição. Referindo-me mais concretamente à Europa, entendo que deveriam ser preservados alguns pontos, tais como:
a) evitar os jogos entre tão díspares divisões que nada acrescentam e são ridículos;
b) em vez disso, acho que deveriam ser organizadas diferentes divisões, segundo o ranking oficial, digamos o primeiro, segundo e terceiro escalões, em que haveria o aliciante de os jogos serem mais equilibrados e havendo sempre selecções apuradas destes diferentes escalões, maioritariamente do primeiro, menos do segundo e um representante da 3.ª divisão. Um pouco, aliás, como já se faz para o apuramento na Champions em que há um APOEL, um Qarabag ou um Astana que, de outro modo, seriam esmagados nas eliminatórias.
Gosto particularmente da lógica de apuramento na América do Sul, disputando-se um verdadeiro campeonato, todos contra todos e alcançados o apuramento os primeiros 4 ou 5 classificados. Bem sei que lá - tirando a Venezuela e, quiça, a Bolívia - há mais homogeneidade futebolística, mas não me pareceria mal que as 16 melhores selecções europeias fossem divididas em dois grupos com apuramento das melhores três ou quatro.
Luxemburgo, Bielorrúsia, São Marino, Moldávia, Arménia, Cazaquistão, Malta, Lituânia, Macedónia, Liechtenstein, Gibraltar, Kosovo, Ilhas Féroe, Letónia e Andorra são selecções que deveriam jogador o seu campeonato para uma delas ser premiada com a ida ao Mundial. Bem sei quão são importantes, para as eleições da FIFA, os votos destas federações secundárias. Daí que nada mude ou se finja que muda.
No seu conjunto, a triste figura que fizeram no actual modelo resume-se a um deplorável quadro (não considerando a última jornada): em 144 jogos, 12 vitórias, 23 empates e 109 derrotas (vitórias, e empates, quase só entre eles, quando no mesmo grupo). Marcaram 82 golos e sofreram 392 golos! Se, porém, retirarmos os encontros entre estas duas selecções quando jogaram entre si, quando no mesmo grupo, teríamos, por exemplo: Gibraltar só com derrotas, 3 golos marcados e 43 sofridos; Liechtenstein só com derrotas, 1 golo marcado e 35 sofridos; São Marino só com derrotas, 2 golos marcados e 46 sofridos; Malta só com derrotas, 3 golos marcados e 22 sofridos, etc., etc. Enfim, uma fartura, à custa de um franganotes que, em alguns casos nem países são (Gibraltar) e noutros nem estádios têm em condições, como Andorra, Kosovo e, claro, Gibraltar que jogo em... Faro! Assim se vão acumulando internacionalizações a rodo para todos os gajos, que até os passarões de intermediação futebolística agradecem pois a um qualquer banal jogador sempre é possível apor o carimbo de internacional e inflacionar o passe.
3. Escrevo antes do decisivo Portugal-Suíça na Luz. Temos tudo para não precisar do habitual play-off. E assim continuar um itinerário de apuramentos ininterrupto neste século, ou seja, atingir o 10.º entre 5 Mundiais e 4 Europeus. Brilhante!

Taça de Portugal
A propósito de condições mínimas dos estádios (ou mais rigorosamente dos campos de futebol), em que a UEFA é tão intransigente nas competições europeias de clubes e a FIFA tão negligente nas competições mundiais de selecções, passo para a Taça de Portugal, que, agora, já é disputada pelos clubes da divisão principal. Com uma regra que aplaudo: equipas de escalões inferiores jogam sempre em casa quando o sorteio lhes dita uma equipa de escalão superior. Por duas boas razões: a possibilidade de aumentar a surpresa do que se convencionou chamar tombas-gigantes e a obrigatoriedade de as equipas mais cotadas irem jogar por esse Portugal fora. Enfim, dois factores que tornam ou deveriam tornar, a Taça de Portugal como a competição mais democrática do futebol português.
Acontece que nem sempre as regras são regras e a sua excepção toma conta da regra. O Benfica iria a Olhão, contra uma equipa com tradições primodivisionárias, mas que agora anda pela 3.ª divisão, pomposamente chamada de 'Campeonato de Portugal' (então as 1.ª e 2.ª divisões são de onde?). Parece que o relvado de Olhão está uma miséria e vai daí o jogo será no estádio do Algarve. Gostaria de saber se o tal relvado está mais impraticável que o dos Barreiros no Funchal onde o Benfica se viu obrigado a jogar num simulacro de relva misturada com abundante terra e outras ervas. O Benfica joga do mal o menos - perto de Olhão. Já o FC Porto, a quem calhou em sorteio do Lusitano Ginásio Clube, mais conhecido por Lusitano de Évora, clube com 106 anos e com a sua camisola de riscas verticais estreitas, não vai jogar no velhinho campo Estrela. Sinto um especial carinho por este clube, não só porque é uma bela cidade de Portugal, mas porque me lembro dos tempos em que disputava a primeira divisão e de alguns dos seus jogadores que moíam a cabeça aos grandes do nosso futebol (Vital, Falé, Polido, José Pedro e tantos outros). Pois, lá está, o campo não terá condições e o jogo será em... Lisboa (Restelo). Lá se vai o fascínio do sorteio que Évora bem merecia acolher. Pergunto: se ao Olhanense e ao Lusitano tivessem calhado outros clubes da primeira divisão que não um dos grandes, onde se disputariam os encontros?

Contraluz
- Número: 26 milhões
É o que Neymar exige ao Barcelona que, se não pagar, deveria - segundo ele - ser expulso da Champions. Ah, ia-me esquecendo: €26 M de prémio de renovação de contrato que foi... interrompido por vontade do próprio, que até já havia recebido antecipadamente €8,5 M! A ignomínia insaciável de um atleta que sabe muito de bola, que nunca está satisfeito nas suas contas por mais zeros que estas tenham à direita, mas que de ética é um zero à esquerda. Uma desfaçatez sem limites. Ele e outros também são especialistas em fugir aos impostos e dizem, com um ar angélico, que disso nada percebem porque alguém, que não eles, trata do assunto. E o mundo futebolístico ajoelha-se perante monstros aldrabões e fiteiros. Fosse com um comum cidadão e por uns patacos, o que aconteceria?
- Bom exemplo: Andrés Iniesta
Não me refiro à sua sageza em não misturar futebol com política ao contrário do seu colega Piqué que resolveu ser independentista jogando pelo adversário (Espanha). Refiro-me antes ao seu carácter discreto, sereno e anti-vedeta e, obviamente, ao seu futebol de eleição (que saudades tenho do par Iniesta-Xavi, único na história do futebol), e também porque foi notícia a sua renovação vitalícia pelo seu único clube, o Barcelona, onde está há 19 anos!
- Péssimo exemplo: a falta de respeito por um minuto de silêncio
Sporting, Porto e Benfica multados pela javardice do costume de grupelhos de adeptos. Uma multa que deveria directamente ser paga pelos javardos. Talvez assim se calassem. Quando não se respeita uma morte, não se respeita a própria vida. A começar pela dos próprios."

Bagão Félix, in A Bola

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