Últimas indefectivações

domingo, 14 de agosto de 2011

Intervenção divina !!!






Já começa a faltar palavras, vezes sem conta, queixamo-nos da má fortuna, do nosso famoso 'mau' fado lusitano, mas desta vez, está-se a passar exactamente o contrário, creio não ser injusto ao afirmar que nunca uma Selecção nacional conseguiu tanto, jogando tão pouco... não confundir a atitude, e a entrega dos jogadores, com os maus espectáculos futebolísticos, a equipa tem atitude defensiva e por isso ainda não sofreu golos, o problema é quando é preciso atacar, normalmente é o Nelson contra o Mundo (ou o Caetano!!!), e muito pontapé para a frente...

Hoje, além daquilo que passou durante os 120 minutos, ainda tivemos a 'ousadia' de recuperar de um 1-3 nos penalty's para vencer por 5-4, algo que muito sinceramente não me recordo de ter acontecido alguma vez, a este nível...

Não sei se foi intervenção divina, ou somente a noite do São Mika, mas isto já começa a parecer macumba, e se no final do jogo anterior previa uma derrota pesada na despedida do torneio, agora tudo pode acontecer (inclusive a tal goleada!!!)... se fosse adversário de Portugal, depois de analisar a maneira como a equipa Portuguesa 'sobreviveu' neste torneio, ficaria com medo, pois parece que está 'protegida' ao mais Alto nível!!!

Não vi os jogos todos, mas este até pareceu o melhorzinho, com mais remates à baliza, a maior parte de longe, mas pelos menos rematámos...

TEATRINHOS

"Guardo a memória grata dos teatrinhos de robertos nas praias da minha infância. Há muito que desapareceram e, com eles, a magia de um trabalho de itinerância pobre que enchia de alegria os olhos das crianças, sob o sol escaldante dos meses de veraneio.

Nesses teatrinhos, pequenos palcos de madeira e lona que salpicavam de cor a brancura dos areais, havia sempre um vilão de cacete na mão que resolvia tudo à paulada, no meio de mais intimidante berraria. Os teatrinhos desapareceram há muito, mas os vilões dos teatros de robertos continuam a subir a cena, sobretudo quando fazem contas e são levados a recear que a nova temporada de praia não lhes corra de forma tão auspiciosa como a anterior.

Gosto de os ver a esganiçarem-se, assumindo as suas personagens para conseguirem criar a agitação de feira que constitui o tempero das grandes diversões populares. Aqui uma cacetada, ali uma fugaz provocação em falsete, mais adiante um insulto velado. Nada falta neste previsível arsenal de 'bocas' que servem para criar factos políticos-desportivos e para manter a pressão alta sobre os adversários mais temíveis e credíveis. Nem Sun-Tzu faria melhor no seu cada vez mais clássico 'A Arte da Guerra'.

E tudo por causa desta memória já longínqua dos teatrinhos de robertos que nunca seriam o que eram sem um vilão brandindo o seu cacete enquanto via partir para outros palcos de maior dimensão os seus melhores trunfos.

Entretanto, no palco principal, os mais destacados nomes do cartaz sobem à cena e vão mostrando do que são capazes na hora dos banhos turcos. Revelam-se coesos, bem preparados e com vontade de vencer, que é, afinal, o que verdadeiramente conta e deixa sem argumentos o vilão de cacete na mão dos teatrinhos de praia.

Há memórias que é sempre bom preservar, mais que não seja porque nos permitem recordar as tristes figuras que esses vilões de cacete na mão faziam, à torreira do sol, nos velhos teatrinhos de robertos."



José Jorge Letria, in O Benfica



PS: Não foi concerteza a intenção do autor, mas esta coluna 'encaixa' na perfeição no rescaldo Lagarto, após o empate com o Olhanense, inclusive os falsetes!!! Além da lona às riscas...!!!

Sem portugueses

"Acabou por ser fácil (mais fácil que o esperado) a nossa passagem ao 'play off' da Lia dos Campeões, depois de um empate na Turquia que acabou por saber a pouco, tantas as oportunidades falhadas. Mas foi uma exibição consistente, fechando todos (ou quase todos) os caminhos aos turcos.

Um jogo que ficou marcado pelo facto de, pela primeira vez nas competições europeias, termos jogado sem qualquer jogador português. Em 1979, já lá vão 42 anos, votei em Assembleia Geral contra a admissão de jogadores estrangeiros, pois pensava que o Benfica, como qualquer outro clube português, não teria meios para trazer melhores jogadores que os nossos. 'Perdi' a votação e ainda bem, pois, alguns (poucos) anos passados, o Benfica conseguiu mesmo grandes reforços, como Filipovic, Stromberg, mais tarde Magnusson, Valdo, Mozer, Ricardo, Schwarz, Thern, etc. A descolonização, em 1974/75, tornara inviável a tradição que durante mais de 70 anos foi um orgulho nosso: apenas jogadores portugueses.

Passados mais de 30 anos sobre a vinda dos primeiros estrangeiros, estamos no pólo oposto. Refiro-me com mágoa. É certo que prefiro ganhar só com estrangeiros a perder só com portugueses. Entre um bom (e acessível) estrangeiro e um português 'assim-assim', claro que prefiro ter o jogador estrangeiro.

E, sejam eles nacionais o não, os jogadores do Benfica terão sempre o meu apoio. Mas gostaria que fossem mais os portugueses na nossa equipa, embora compreenda que tal depende mais dos regulamentos do que da nossa vontade. A situação é a que é, e até o Sporting já compreendeu que, apenas com os jogadores da formação, não vai lá. O mal não é do Benfica, é do futebol português, é, afinal - vistos os exemplos de grandes clubes estrangeiros -, do futebol europeu. As regras comunitárias não ajudam nada (e continuo a pensar que não se deveriam aplicar ao desporto, uma actividade com características muito próprias) e seria bom que os clubes portugueses tentassem influenciar a Federação e a Liga e ainda a UEFA e a FIFA no sentido de 'travar' essa internacionalização das equipas. Pois, de outra forma, para quê estar a formar jogadores? Para reforçar outras equipas? O trabalho que fazemos no Seixal (e o Sporting faz em Alcochete) é muito bonito mas, se as coisas continuarem assim, não se traduz em resultados práticos. É pura perca de tempo e dinheiro. Infelizmente..."


Arons de Carvalho, in O Benfica